sábado, 18 de fevereiro de 2012

COMO O DIABO GOSTA!

Liége Farias é
 cronista literária
Crônica

Betão passava o ano inteiro esperando o carnaval. Casou muito jovem , mas desde os quinze anos fez seu debut em um bloco do sujo e nem o casamento atrapalhou sua carreira de folião. Betão era a cara do carnaval, festa da carne, da folia, da alegria, da descontração. Tudo regado a uma boa cervejinha gelada. Pulava sempre os três dias impiedosamente e de quebra, ainda montou um bloco que saía às quartas-feiras de cinzas, tipo o Bacalhau do Batata.
Os anos foram passando e Betão continuava o velho folião de sempre. Responsável o ano todo mas bastava chegar o carnaval e já entrava na gandaia desde o sábado gordo. A mulher, no começo ainda andou reclamando, relutou, viu que ia perder a guerra e coformou-se a ficar sem marido no reinado de Momo. Solteirinha da Silva.Livre, leve e solta! Era bonitona a Diva! Com um professor desse em casa, tratou de aprender a lição rapidinho. Virou também uma foliona de primeira categoria. No carnaval, era como o diabo gosta: marido para um lado, mulher para o outro. Festa da carne, serpentina, pandeiro, confetes mil, trio elétrico pois atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu. A bagunça instalou-se na casa da famíla do Betão e o neguinho nem tinha moral para argumentar qualquer coisa.
O carnaval para o brasileiro é como uma religião fundamentalista: existem carnavalescos xiitas, são capazes de adoecer se não pular um carnaval. Nesta época do ano alguns adquirem AIDS,gonorréia, hepatite,todo tipo de DST - Doenças Sexualmente Transmissíveis.
Diva dá o troco até hoje, virou foliona, é mulher de carnaval com muita honra, desce em Escola de Samba, fez lipoaspiração e faz tudo o que a Medicina Estética permite para melhorar o seu visual. São duas criaturas felizes, separadamente dão grandes gargalhadas, contentes com suas fantasias, amanhecem com a explosão da aurora no mar, são do Rio de Janeiro - lugar da beleza e do caos - são cariocas da gema, tem no sangue o carnaval e embeiçados por marchinhas e sambas, amantes de uma cervejinha gelada, amanhecem pelas ruas rindo para os vira-latas transeuntes. Tristeza mesmo só na quinta, após a quarta-feira de cinzas, como o bloco do Bacalhau do Batata, ambos participam de um bloco que extende-se até à quarta-feira de cinzas. Quarta-feira de cinzas à noite, dois foliões saudosos! A noite - que esperança - não era grande, era pequena para a gula de vivê-la em toda a sua plenitude.

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