domingo, 24 de fevereiro de 2013

A AGITADA DESPEDIDA DE BENTO XVI

O Globo
Não têm sido tranquilos os últimos dias do pontificado de Bento XVI, a que ele decidiu renunciar. Às questões polêmicas, que já existiam, somam-se outras, como um relatório que teria sido preparado por três cardeais, a pedido do Papa, e que, dada a gravidade das conclusões — corrupção, rede de prostituição gay dentro do Vaticano —, teria sido a gota d’água para que o pontífice, já esgotado fisicamente, se decidisse a encurtar o mandato.
Por enquanto, são especulações. Mas o suficiente para causar preocupação nos que, católicos ou não, se interessam pelos destinos da mais antiga instituição do Ocidente.

A preocupação também transparece nas últimas homilias que o Papa tem pronunciado na Praça de São Pedro — os encontros semanais que foram um dos pontos altos desse pontificado de oito anos. O que pede o Papa? Que a Igreja e seus fiéis virem as costas ao orgulho e ao egoísmo; que as pessoas deixem de instrumentalizar a Deus para seus próprios fins, pondo acima de tudo o sucesso material. Seriam referências ao que acontece no Vaticano, onde, segundo outros relatos, existiriam conflitos entre tendências rivais?
A Igreja é uma organização de alcance mundial, e, onde há poder e prestígio, as ervas daninhas não tardam a aparecer. Mas o que Bento XVI está dizendo faz parte do patrimônio imemorial da Igreja, e serve para qualquer época.
Em dois mil anos de existência, a Igreja de Roma passou por todas as peripécias. Da perseguição ao triunfo. Houve um momento, na Idade Média, em que o Papa valia mais que os imperadores, e podia articular a derrubada de testas coroadas. Isso foi a fonte de imensos equívocos, o ponto de partida para prelados arrogantes que usavam seus cargos para se cobrirem de riquezas e de honrarias. Exatamente nessa hora, apareceu um Francisco de Assis, para dizer que o verdadeiro caminho da Igreja estava no desprendimento, no despojamento.
É uma discussão que atravessa os séculos, porque eclesiásticos são feitos de carne e osso. Dentro do próprio catolicismo, diz-se que a Igreja é “santa e pecadora”, por ser composta de seres humanos.
Foi o que se viu de uns anos para cá, quando começaram a espocar as denúncias sobre casos de pedofilia praticados por sacerdotes. Sendo a pedofilia já de si abominável, que dizer de um suposto homem de Deus que usa a sua função para abusar de um menor?
São questões que Bento XVI herdou do papado anterior, e a que procurou dar resposta na medida das suas forças. Seria uma pena, entretanto, que problemas desse tipo (gravíssimos) jogassem na sombra o legado de um papa de excepcional estatura intelectual e humana.

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