quarta-feira, 9 de novembro de 2011

TIA MENA

Crônica

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Liége Farias é cronista literária
 Passo horas babando ouvindo Sílvia contar as incríveis histórias da sua tia Mena.
Filomena era seu nome e já não está entre nós.Irreverente ao extremo, a tia da minha amiga era uma mineirona, lá do Sul de Minas, de Pouso Alegre,analfabeta, lavradora, pobre, criadora de porcos, valente e muito autêntica.
Silvinha é uma mineirinha cheia de açúcar, pessoa simples, sem esnobismo e é uma das poucas amigas que tenho.É louca pelo calorão daqui e não sente nem um pouco de saudade do frio das montanhas.
Conta-me, quando a gente conversa, vários fatos envolvendo a tia piradona, são coisas tão fora do comum que dou intermináveis gargalhadas. Mena era uma figura conhecida na cidade, fazia flores de plástico e vendia no baixo meretrício, as prostitutas adoravam as cores fortes das flores, que iam do roxo ao vermelho sangue, só cores berrantes e a clientela ia ao delírio!
Tia Mena era criadora de porcos e quando os animais brigavam, ela transformava-se em uma exímia cirurgiã plástica. Orelha pendurada era fichinha, pegava sua agulha e suturava a valer.Focinho caído era todo costuradinho e os suínos usavam até brincos. E desse jeito, a garotinha Sílvia que passava as férias com a tiazona, ficava deslumbrada com aquele universo animadíssimo para uma criança.Era só êxtase, todos os momentos passados ao lado da excêntrica tia. Mena era uma figuraça! Enfrentava suas dificuldades com dignidade, falava muito palavrão, mineiro do interior fala quase um dialeto, fico imaginando como era interessante o modo de falar desta mineira. Guimarães Rosa que o diga!
Para a menina Sílvia, que a tia chamava Sirva, o sítio da Filomena era o "Sítio do pica-pau-amarelo".Lá era só magia, o leite era tirado das tetas das vacas, os porcos tinham brincos, passavam por cirurgias plásticas pelas mãos da Dra. Mena,de vez em quando a tia contratava um sanfoneiro para uma festança. As canções do sanfoneiro faziam brilhar os olhos da menininha! Criança não vê o mundo em preto e branco, vê o mundo colorido.
O quintal da tia Mena era extraordinário, um lindo pomar. Era agricultora, sabia mexer na terra. Suas pitangas cheirosas,mexericas enormes,laranjas, jabuticabas, amoras...
Tia Mena fez muita presepada. Nasceu e morreu numa casinha branca perto das frias montanhas, fogão de lenha, uma chaminé com fumaça sem parar, o vale verde, a costela de porco tirada da banha assando na brasa. Que cheiro bom no ar!
Era uma vez..aquela tia do barulho, amada e inesquecível!

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