quinta-feira, 4 de abril de 2013

UM BRINDE PARA RECOMEÇAR (CRÔNICA)


Liége Farias é
cronista literária

Um casal, num cantinho romântico do restaurante, brindava com vinho espanhol. Brindava por brindar, muito tempo dentro de um casamento, o desgaste foi inevitável: tentavam continuar juntos, embora, os castelos, com todos os seus encantos, desmoronaram. Ao fundo, na penumbra, chorava um jazz de estraçalhar o coração, o sax partindo a alma, com a música do Vinicius: Eu sei que vou te amar. Rita e Célio, escolheram um restaurante espanhol, pois foi naquele lugar inesquecível, a Espanha, que passaram a lua-de-mel. Olhavam-se esboçando um sorriso angelical, um sorriso entre velhos amigos. Certa vez, um amigo afirmou para Celinho: -"O casamento só termina, se houver uma terceira pessoa." Aquele relacionamento de muitos anos, abençoado por um sacerdote, estava sucumbindo, estava afundando, por existir, uma terceira pessoa. Célio, mantinha um romance extraconjugal, por mais de 10 anos, sem filhos, com uma mulher mais jovem do que a esposa. Covardia! Sacanagem!. Vivia na corda bamba! Cara de palhaço, pinta de palhaço, roupa de palhaço! Uma palhaçada! Com Ritinha, tinha três filhas, todas casadas e muito bem casadas. Martirizava-se quando pensava em abandonar Rita, abandonar a mulher da sua juventude, mulher dos seus verdes anos, isso só mesmo para os canalhas! E Célio, carregava esse adultério como um peso nas costas. Fazia profundas reflexões: "A culpa é uma mochila cheia de tijolos, você leva pra cá, pra lá, e não adianta nada." Meditava nessas palavras, ditas por um companheiro de mesa de bar. Celinho considerava-se um homem sacana, separar-se da Ritinha, que nunca deu um tiquinho de motivo, sempre foi uma esposa exemplar. Só um idiota, deixaria aquela mulher, só mesmo o mais infame homem, seria capaz de um ato tão desprezível. Célio queria agarrar-se à felicidade com a amante, porém, tinha convicção, que a jovem mulher não suportaria conviver com um homem com problemas da velhice, e a velhice estava chegando para Célio, meninas não amam velhos. Às portas da velhice, contudo, ele ainda dono de uma lucidez brilhante, tomou uma decisão: voltar definitivamente para Ritinha. Lá no cantinho do restaurante espanhol, ela pediu Lagosta ao alho, ele convidou-a para uma segunda lua-de- mel, desta vez, em Las Vegas.Rita sentiu uma lágrima morna escorrer pelo rosto, levantaram as duas taças mais uma vez, um brinde para recomeçar! E foram viver tempos de paz!

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