sexta-feira, 17 de julho de 2015

Começou a corrida pela sucessão

HéLIO GUROVITZ

Eduardo Cunha

No mesmo dia em que o Ministério Público Federal do Distrito Federal abriu um procedimento para investigar as relações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a empreiteira Odebrecht, dois novos depoimentos da Operação Lava Jato atingiram o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (na foto). Primeiro, o delator Júlio Camargo afirmou ter entregado US$ 5 milhões em propinas a ele –  Cunha negou e chamou Camargo de “mentiroso”. Depois, o doleiro Alberto Yousseff se disse ameaçado por um “pau mandado” de Cunha.


Desde ontem, o PMDB se declara, em diferentes graus, rompido com o governo Dilma Rousseff. Cunha tem falado nos bastidores em abrir sua “caixa de maldades”, acusa o governo de conluio com a Procuradoria-Geral da República para atingi-lo e promete transformar a vida de Dilma num inferno ainda maior no Congresso Nacional no segundo semestre. Alguém ainda acreditava que Cunha fosse um aliado do governo?



Tudo isso tem um significado político claro: seis meses depois da posse, está aberta, dentro do próprio governo, a corrida pela sucessão da presidente Dilma, cuja popularidade naufraga em índices inferiores a 10%. A forma como isso se dará ainda não está clara. Em todos os cenários, um fator será crítico: até quando DIlma ficará no poder? Se resistir até o fim do mandato, a viabilidade de qualquer candidatura governista será prejudicada pela situação econômica calamitosa. A mera possibilidade – ainda que pouco provável – de impedimento ou renúncia contribuirá para enfraquecer Dilma ainda mais. Tendo isso em mente, podemos analisar os interesses dos possíveis candidatos do PT, PMDB e PSDB.



Do lado petista, o candidato óbvio à sucessão é o ex-presidente Lula. Para chegar lá, ele precisa sobreviver às denúncias e evitar que as investigações do petrolão cheguem a seu nome. Mas isso não basta. A questão para Lula é mais complexa. Vale a pena para ele concorrer como sucessor de Dilma? Ou seria melhor concorrer contra um governo comandado pelo PMDB de Michel Temer e Eduardo Cunha e aparecer como redentor do projeto petista original? Uma análise fria mostra que a presença de Dilma no poder é um empecilho para o sucesso da candidatura Lula. Nas últimas pesquisas que simulam intenções de voto, Lula tem perdido para o tucano Aécio Neves, em boa parte porque Dilma, ele e o PT estão, em suas próprias palavras, “no volume morto”. Não seria uma surpresa se Lula – apesar de todo o esforço para atacar os desdobramentos da Lava Jato – pouco fizesse para segurar Dilma no cargo, caso suas contas sejam condenadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) no julgamento previsto para agosto.



Do lado da oposição tucana, os candidatos óbvios são o senador Aécio Neves e o governador paulista, Geraldo Alckmin. Ambos se saem relativamente bem nas pesquisas. Para os dois, a permanência de Dilma no poder facilitaria o jogo. Paradoxalmente, é do interesse da oposição tucana resistir às tentativas de impeachment, pois uma disputa com um sucessor peemedebista ou com um Lula livre do espectro dilmista traria um grau de incerteza. Dilma fraca, para Aécio e para Alckmin, é melhor que Dilma fora.



A maior novidade é a oposição peemedebista (já está na hora de chamá-la pelo nome). O vice Temer, uma voz de sensatez que em geral tenta desarmar todo tipo de tensão política, certamente não se oporia a cumprir o final do mandato de Dilma, caso a situação chegue a esse ponto – ainda mais se pudesse passar o bastão a alguém de seu partido no final. Mas seria uma mudança arriscada para o PMDB, acostumado em mais de 20 anos ao papel de segundo partido em qualquer coalizão governista. Eterna garantia da governabilidade, avesso a rupturas, o partido se veria dependente de uma saída traumática para assumir o poder. A maior dúvida, nesse cenário, é qual PMDB seria beneficiado? O PMDB de Temer, Renan Calheiros e dos caciques regionais interessados em manter seus feudos? O PMDB de Cunha e sua agenda neoconservadora anti-petista? Ou uma terceira via, talvez o prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes, cuja popularidade poderia despontar no cenário nacional no esteio da Olimpíada de 2016? Quem seria o candidato a presidente num partido que é uma federação de interesses difusos?



Dúvidas, dúvidas, dúvidas… De certo, agora, apenas a ruptura na aliança governista – e uma improvável, e talvez temporária, confluência nos interesses de Lula e Cunha no que diz respeito ao governo da presidente Dilma.

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