terça-feira, 15 de maio de 2012

“CIDADES FLUTUANTES” QUE NAVEGAVAM! AH QUE SAUDADES!


Carlos Costa é jornalista
Singravam as águas do Rio Solimões vindos do Estado do Pará, um dia um e outro dia o outro, os navios Augusto Montenegro e Lauro Sodré, sempre passavam na madrugada, na comunidade de Varre-Vento. Nunca os avistávamos navegando juntos! Mas iluminavam tanto que passamos a chamá-los de “cidades flutuantes” porque clareava toda nossa casa de madeira coberta de zinco e palha.

 Ah, que saudades tenho das duas “cidades flutuantes”, que causavam alegrias e que desespero quando avistadas ao longe!  

 De tanto meu pai, acordar, na madrugada, para colocar a canoa a salvo das fortes ondas produzidas pelos dois navios, decidiu puxá-la para a terra todas as vezes que precisávamos usá-la, por pura necessidade, para  deslocamentos alguém da família a remo pelos rios. Assim, de madrugada, em torno de 3 horas da manhã, deixamos de acordar para puxar a canoa. Era apenas para  apreciar o suave deslizar dos navios embicando água para os lados, produzindo  fortes, terríveis e desesperadores banzeiros, que muitos caboclos aproveitavam para “pegar ondas”  em pequenas canoas indo para cima e para baixo, como se fosse um balé sem música!

Ah, como eram deliciosas e preocupantes a passagem dos dois navios da Enasa, lindos, grandes, maravilhosos e bastante iluminados. Na mente da criançada de Varre-Vento, que nunca tinha visto tantas luzes juntas em um mesmo local, eram apenas duas “cidades flutuantes andantes”, transportando pessoas com sonhos, alegrias e tristezas.

 Como seriam possíveis tantas lâmpadas, dentro das “cidades flutuantes” de nossas imaginações, navegando suavemente pelo Rio Solimões? Nunca tínhamos visto nada daquilo e ficávamos imaginando “como será que conseguem andar as lâmpadas, acompanhando os navios?” “Ou não acompanhavam? “Estavam dentro dos navios?”

 Eram perguntas que só comecei a entender as respostas depois que meu pai, anos depois, colocou luz elétrica em nossa casa, ocasião em que fiquei gostosos momentos acendendo e apagando uma lâmpada incandescente presa em um fio branco pendurado na sala, terminando em uma chave redonda branca com o plug que fazia “tec” quando acendia e “tec”  quando apagava. Fiquei brincando admirado, acendendo para ouvir o “tic-tac” e observar o filamento da lâmpada transparente acendendo e apagando.

 Será que Thomas Alva Edison, inventor de 2.332  patentes, também chamado de  “O Feiticeiro” ou Menlo Park” sentiu a mesma emoção que tive, quando acendeu o filamento de sua primeira lâmpada elétrica, pela primeira vez? 

- Para com isso, meu filho? Você parece um bobo acendendo e apagando essa lâmpada!! Era meu pai, me chamando à atenção porque eu acendia e apagava a lâmpada, sempre olhando para o rumo a lâmpada, ouvindo o gostoso som aos meus ouvidos do  “tic-tac”; tudo só para ver o filamento clareando e depois escurecendo o ambiente.

Não. Não estava bobo! Só queria mesmo saber como os navios Augusto Montenegro e Lauro Sodré conseguiam navegar pelo Rio Solimões com tantas luzes acesas? Será que tinha uma chave única para ligar todas as luzes ao mesmo tempo?

Mas nunca saberei a resposta às perguntas, pois minha família não tinha dinheiro para comprar passagem nas “cidades flutuantes” de minha imaginação e eles também não paravam em Varre-Vento. Depois de ter nascido no Morro da Liberdade, retornei para Manaus para estudar, em 1969, em motor regional, todo em madeira! Mas as luzes não me pareciam iguais às das “cidades flutuantes” de minha imaginação infantil!

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