segunda-feira, 21 de maio de 2012

HELIODORO BALBI

Foi a floração intelectual mais viva do seu tempo, no Amazonas.
Filho desta terra, foram seus pais Nicolau Balbi e Domiciana Bacury Balbi. Fez o curso na antiga Escola Normal do Estado e o de Preperatórios no Ginásio Amazonense. Como estudante, distinguiu-se, logo por seu talento, mostrando-se, nos comícios da mocidade, um orador fluente, imaginoso. Abrilhantáva os jornais da época (última década do século XIX) com suas poesias e digressões literárias. Funcionário da Recebedoria do Estado, retirando-se, de quando em vez, para a capital de Pernambuco, conseguiu forme-se ali em direito, tendo sido o orador de sua turma. Produziu uma das peças mais fulgurantes da Faculdade.
Regressou não Amazonas, nimbado de uma consagração exaltada nos meios culturais da terra de Araújo Filho e Gaspar Guimarães. Em concurso memorável, conquistou a Cadeira de Literatura do Ginásio Amazonense, onde pontificou por alguns anos, ao mesmo tempo que se entregava às lides da imprensa partidária. Foi um polemista ardoroso, veemente, de uma grande intransigência de princípios, atitudes que ia ao destemor.
Redigindo o jornal “O Norte”,desta capital,deu provas do seu caráter independente e, tantas vezes, impetuoso. Não se incomodava de lançar a seta do desagrado aos magnatas do situacionismo político. Mostrava prazer nisso.
Heliodoro Balbi, em plena oposição aos detentores do poder, no amazonas, fez-se candidato a uma das vagas de Deputado Federal. Conseguiu brilhante sufrágio. Vai ao Rio de Janeiro para defender deu diploma, perante a Câmara. Formidável, discurso proferido. Nesse documento parlamentar, o ardoroso amazonense, atacando os próceres da política situacionista do seu Estado, num exagero de linguagem, dizia: “Os ladrões de minha terra são tão audaciosos, que escalariam o céu se as estrelas fossem libras esterlinas”. Não chegou a sentar-se na curul do Parlamento. A politicagem de campanário não permitia expansões de pensamentos, liberdade de opinião. E o temperamento de Heliodoro Balbi não suportava o guante do partido governamental. Às margens da correnteza que descia do Olympo, não encontrou nenhum remanso da vitória. Quase desiludido, sofrendo a falta de pagamento de sua remuneração de Professor do Ginásio, retirava-se para o Acre, então sonho dourado das inteligências livres. Lá, entre nos prélios do fôro e sustenta, pela imprensa, a mais memorável, erudita e brilhante controvérsias com um também ardoroso advogado da região, contenda de que saiu aureolado. Pouco tempo depois, Heliodoro falecia. Como justa homenagem a sua luminosa memória, seus restos mortais são transportados para esta capital (Manaus) onde jazem no cemitério de São João Batista. Como poeta, foi de uma espontaneidade natural. A cadência dos seus versos é musical e emocionante. Não posso esquecer o poemelo “relicários”.  Que, me parece, escreveu para ser recitado à beira do seu túmulo...
Creio na adversidade do destino. E, entre os exemplos, que me vêm à mente, aponto Camões, Bocage, Heliodoro Balbi, aedos de vida amargurada, incompreendida. Mas, as gerações pósteras costumam pagar dos gênios, a dívida de glória, que os outros ficaram a dever, erguendo-lhes, no bronze ou no mármore, a eternidade do reconhecimento pátrio.
Manaus, setembro de 1945.
AGNELLO BITTENCOURT
Da Academia Amazonense de Letras

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