Grandes
nomes da Literatura da Língua Portuguêsa
HELIODORO
BALBI
MENDONÇA DE SOUZA
AINDA
HOJE, decorridos cinqüenta e quatro anos do trespasse, HELIODOR BALBI, pelos
múltiplos e notáveis remígios poéticos, sociológicos e filosóficos, permanece
em nossa admiração e estima. Mas firme, mais estável, nesta permissão do tempo,
podemos sentir-lhe os rumos colossais, infinitos.
Jamais
hesitou em face dos obstáculos. A vida e a obra oferecem-nos o valor insigne,
extraordinário em atividade mental, forte personalismo, raciocínio empolgante,
agudíssima veemência nos julgamentos políticos e sociais.
A
faculdade rara naquilo em que o talento e o gênio, sem reserva e sem inveja,
sem restrições e sem medo, exigiam-lhe enleio e culto. O nobilíssimo ânimo em
que sempre assim viveu a se explicar:
- “O direito, como fenômeno
evolutivo, não é um produto da cultura: é um fenômeno concomitante do
aparecimento do primeiro homem, que foi o primeiro selvagem. A sua gênese está
no ato reflexo, determinado pelo meio cósmico – um simples movimento, como a
consciência na sua gênese”.
Cumpre-se
distingui-lo nesse itinerário de leis e razões para as forças físicas e
sociais, para o cosmo, para a vida. Senti-lo nas constantes modalidades da
existência agitada. Nutre em horizontes mais desafogados. Típica, figurativa,
emblemática no lume de Prometeu.
Deixou-nos
uma obra vasta, complexa, épica no raro poder de emoção, de sagacidade, de
amplíssimo saber. Uma vida inteira devotada aos livros, às doutas idéias. Na
crítica e na polêmica sabia mostrar-se altíssimo, superior, honrado no valor
das convicções límpidas e nas ações nobres.
Em
feliz estudo de recapitulação dos grupos humanos, de reconhecimento ao
progresso e de consciência histórica, deixa-se ver e aplaudir nesta mensagem
estimuladora aos que sabem defender com diligência e bravura o governo político
dos povos contra os sectários e iníquos:
- “Afirmar que a sociedade
evolui, que todo organização social é apenas uma resultante da raça e do
clima,que os homens agem sob a influência principal de agente atmosféricos ,de
necessidades e instintos hereditários, é esquecer a ação fecunda dos gênios, a
convergência enérgica dos desejos e aspirações coletivas, dos ideais que
norteam todos os agrupamentos humanos, os transportes da multidão apaixonada,
das massas populares em delírio, a explosão de idéias de encontros pacíficos de
raças e de povos, a potência das opiniões individuais, a corrente das
tradições, a força poderosa dos costumes, é esquecer tudo isso, todos os
fatores pessoais da história”.
Nesta
hora de interesse comum da Família Universal pela Paz, em face das ameaças de
novas guerras, nada mais oportuno e justificado do que relermos, com profunda
atenção, estas palavras de HELIODORO BALBI, imensas de notável verdade
político-social:
- “Sem liberdade não há
direito e a força é a inimiga da liberdade. Como, porém, não há direito sem o
respeito às personalidades que o exercitam, o homem luta pela posse eterna
desse respeito, que é a condição da sua própria vida”.
“quando o homem tiver feito
a sociedade como organização do trabalho – a vasta família humana constituirá
então um só todo social, falando uma só língua e tendo um só direito”.
Nesse
destino da cândida ventura, o direito, conseqüência direta da imperfeição
humana, integrar-se-ia à moral. Tornar–se-ia o homem co-participante de uma
sociedade aceita em deveres.
Simplesmente
porque, neste último estágio da constituição social, da universalização
jurídica e política, o homem atingiria o nirvana supremo do espírito mundial.
Teria vencido o próprio mundo.
Só
na crença em Deus o homem consegue deixar de ser o lobo do homem. O
individualismo extremo ainda por séculos e séculos fora acompanhará o
aperfeiçoamento moral da Humanidade.
Daí
estas palavras finais de HELIODORO BALBI, no discurso de formatura, aos novos
bacharéis:
- “O diploma de capacidade
que solenemente hoje recebeis, se é a carta de vossa liberdade privada, da
vossa independência política, é também o código dos vossos deveres humanos.
Quando tiverdes consciência de tudo o que ela
vos diz, de tudo o que ela voz quer dizer, a vossa vida será uma série
infinita de lutas contra todas as opressões e contra todos os opressores.
Nesta
aurora de novo movimento de ordem e progresso, de melhor futuro para a nossa
Pátria, após tanta politicalha, torna-se oportuno, realmente, observamos com
notável respeito estes imortais excertos de HELIODORO BALBI:
- “O patrimônio dos orfãos,
a massa dos falidos, os bens dos ausentes, precisam de mãos puras para guardá-los,
de mãos limpas para geri-los, de mãos honestas para movê-los”.
Trabalhai, colegas, pela
redenção do homem, que será o dia em que, tendo ele plenitude de justiça, não
terá mais necessidade de pleitear direitos”.
BALBI
nasceu nesta bela cidade dos manaus a 16 de fevereiro de 1878. O trespasse
ocorreu em Rio Branco, capital do Estado do Acre, a 26 de novembro de 1918.
Por
especial deferência do Dr. Hugo Carneiro, dez anos depois, os restos do grande
amazonense forem piedosamente exumados e transladados para Manaus. Desde 13 de
fevereiro de 1928, repousam no Cemitério de São João.
Fundou
revistas acadêmicas, colaborou em jornais. Orador de nossa Academia, em várias
solenidades, e, com legítimo orgulho, por algum tempo, do Instituto
Arqueológico e Geográfico Pernambucano. Igualmente, orador da Turma de Bacharéis de 1902, pela tradicional
Faculdade de Direito do Recife.
Como
deputado estadual apresentou aos nobilíssimos, pares projetos de inegável
interesse público. Com professor defendeu, de maneira afetiva, insigne, a
pureza de nosso idioma na modulação da galanteia, desenvoltura, esplendor e
glória.
Neste
rememorativo esfôrço em que o consideramos egrégio cultor do Direito e da
Liberdade, em face da sociologia e da filosofia, a parafraseá-lo, bem podemos aqui
dizer-lhes:
Hoje
que os HELIODOROS BALBIS raream, desaparecem, morrem, precisamos criá-los,
fazê-los, multiplicá-los.
Sem
dúvida, necessitamos venerá-los no que somos, agradecê-los no que temos,
imortalizá-los no que havemos feito na
sucessão dos tempos.
Em louvor, pois, do grande
HELIODORO BALBI aqui, com imperecível gratidão, estas palavras de nossa mais
profunda reverência.
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