Lula e sua turma começaram a se achar maltratados por Dilma na reforma do ministério. Foi por isso que ela adiou o anúncio de mais um pacote de ministros
Ricardo Noblat
Dilma passará à história do Brasil como a primeira mulher a governá-lo –
até aqui estamos todos de acordo. E como o presidente menos querido
pelos políticos desde o fim da ditadura militar de 1964 – e aqui talvez
haja discordância. Ou não? Aos fatos.
Sarney (1985 a 1989) foi um presidente fraco, mas que se deu bem com
políticos de todos os matizes. Herdou um governo montado pelo presidente
Tancredo Neves, que morreu sem tomar posse.
Tão logo pôde montou o seu. Loteou-o para não correr o risco de ser deposto. E sob esse aspecto foi bem-sucedido.
Fernando Collor se elegeu fazendo de conta que não dava bola para os políticos. Que não era um deles – quando de fato era.
Ameaçado de ser deposto por causa de corrupção no governo, cedeu às
pressões dos partidos e entregou todos os cargos disponíveis. Só caiu
porque perdeu o apoio da opinião pública.
Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso e Lula souberam lidar com os
partidos amigos e adversários.
Compartilharam o poder com eles.
E cultivaram os políticos que eram grandes eleitores dentro do
Congresso. Afinal, nem só de cargos vivem os políticos, mas também de
atenção e carinho.
Dilma é um caso à parte – e isso nada tem a ver com o fato de ser
mulher. Ela faz questão de se manter ostensivamente afastada dos
políticos.
Não disfarça a ojeriza que tem por eles. Sente-se superior a todos. E
faz questão de deixar isso muito claro. É temida. Mas amada, jamais.
Gustavo Uribe e Paulo Gama, repórteres do jornal “Folha de São Paulo”,
se debruçaram sobre dados coletados pelo Centro Brasileiro de Análise e
Planejamento (Cebrap).
E conferiram o que muitos intuíam: com Dilma, aumenta a infidelidade da base de apoio ao governo na Câmara dos Deputados.
Este ano, em 34% das vezes, os deputados governistas votaram contra
propostas encaminhadas à Câmara por Dilma. Ou patrocinadas por ela.
Nenhum presidente, de 1989 para cá quando o primeiro deles foi eleito
pelo voto popular, contou com uma base de apoio tão indisciplinada.
Ex-presidentes que enfrentaram sérias crises políticas tiveram mais apoio na Câmara do que Dilma.
Foi o caso, por exemplo, de Fernando Collor. Em 1992, ano em que foi
deposto, a taxa de fidelidade de sua bancada na Câmara atingiu 92%. A de
Lula, em 2005, ano do mensalão, foi de 79%.
Dilma só perdeu apoio dentro da Câmara desde o primeiro ano do seu
governo. Em 2011, 89% de um total de 513 deputados fizeram tudo o que
ela quis.
Em 2012, 76%. No ano seguinte, 74%. E este ano, 66%. No ano passado, o
aliado de Dilma mais infiel foi o PP, dono do Ministério de Cidades, um
dos mais ricos. Votou com o governo 46% das vezes.
O mais fiel, naturalmente, foi o PT com 91%. A taxa de fidelidade do PMDB foi de 54%.
O PMDB tem cinco ministérios. Ganhará mais um no segundo governo Dilma.
O PT perderá ministérios. Já perdeu o da Fazenda e o da Educação.
Lula e sua turma começaram a se achar maltratados por Dilma na reforma
do ministério. Foi por isso que ela adiou o anúncio de mais um pacote de
ministros.
Dilma Rousseff (Imagem: Adriana Spaca / Brazil Photo Press / Agência O Globo)
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