Almino Afonso
Homenagem ao vigésimo sétimo aniversário de Heliodoro Balbi
É noite, coração... Pausando o sino
Chora a nênia dos mortos. Ouves bem?
A nênia das saudades que o destino
Espectro zombeteiro e peregrino
Despreza com desdém.
É a hora da tristeza, dos gemidos,
Das ânsias de pesar, dos ais da dor.
Pela estrada vão vultos doloridos
À tumba dos que dormem esquecidos
Meu amor, meu amor!
Segue-os no pó da estrada-passo a passo,
Passo a passo caminha, segue-os, vai!
Presos na mesma dor, no mesmo abraço,
Verás mortos de sono e de cansaço
O filho e o velho pai...
Entra: é cemitério onde se libra
Na terra quem tombou;
Onde a matéria é ser, mas não mais vibra
Um som, que a lira d"alma, fibra a fibra,
Corda a corda, estalou!
Por entre os braços negros de mil cruzes,
Por entre o crepitar de tantas luzes
Vês um vulto no chão?
Por fortuna- o dançar das brancas velas
Por entre os alaridos das procelas,
Novas mães a rezar!
Túmulos só! durante a tua jornada
Viste apenas, amor...
Quer seguido o viajor da longa estrada.
O soluço da virgem desmaiada,
Ou um o raio sem rub
Tantos túmulos viste! E, sorridente
Como o destino, riste alegremente
O riso do desdém,
Sem saberes que em ti gravou-se funda
A lavra infecta; a podridão te inunda:
És túmulo também!
Sudários denegridos-são-te os sonhos
Que a vida mirou...
Espectros, negros, lívidos, tristonhos
O tédio e o desespero-hirtos, medonhos
Com que o amor te brindou.
Agora vai... Que és túmulo- já viste...
És átomo de pó que não existe,
Que rola pelo chão!
Se tens gemidos- chora;vozes,- grita!
Chora! que a vastidão é infinita,
Coração, coração!...