Política
O governo luta, sem muito êxito, para domar uma inflação renitente que ele mesmo despertou, sobretudo com a gastança desenfreada de 2010. Vem agora o IBGE em seu “socorro”, propondo alterações, que valerão já para 2012, nos pesos de itens usados para cálculo do aumento de preços.
Diminui o peso de cigarros, educação e empregados domésticos. Com isso, a inflação “recuará” 0,4%.
Sequer discuto os cigarros. O IBGE afirma que, cada vez mais, menos pessoas estão fumando hoje em dia.
Mas não me entra na cabeça que alguém, em sã consciência, me diga que os gastos com educação e assalariados domésticos passaram a pesar menos nos orçamentos das famílias. O cheiro é de manipulação pura e simples.
O governo argumentará que de cinco em cinco anos o IBGE faz uma revisão de métodos, porém essa me parece equivocada (se existe boa fé) ou tendenciosa, se há o ânimo de chegar a números irreais e desonestos.
E replicarei que, tendo sempre respeitado essa relevante instituição que é o IBGE, tenho o direito de ficar com a pulga atrás da orelha, sim.
A vizinha Argentina, sob o ponto de vista econômico, em tudo e por tudo mais atrasada que o Brasil, visivelmente adultera os dados de sua inflação. O casal presidencial cometeu a “proeza” de desmoralizar o Instituto de Estatística de lá.
A Venezuela do tiranete Hugo Chávez, faz a mesma coisa, de modo ainda mais ostensivo. E todos sabemos que a inflação galopa em seu sofrido país.
Gostaria de poder continuar confiando no IBGE. Seria lastimável se o “argentinizassem”, no intuito de obter vantagens políticas de curto prazo.
De 2003 para cá, praticamente todas as instituições deste país caíram de nível. Lula desmoralizou o Executivo, pelo aparelhamento da máquina pública, pelo loteamento dos Ministérios e diretorias de estatais entre os partidos da base dita aliada.
Trucidou o Legislativo, promovendo o escândalo do “mensalão”. Debochou do Judiciário ao longo do processo eleitoral recente, infringindo as leis e pagando multas, às gargalhadas.
No governo Dilma Rousseff, cinco ministros foram demitidos pelo vigor da imprensa, acusados de graves irregularidades. Dois outros balançaram e sobreviveram; refiro-me ao episódio dos “aloprados”. Um, Nelson Jobim, provocou a própria demissão, meio que não agüentando mais fazer parte do gabinete.
Finalmente, Carlos Lupi e Mario Negromonte ficarão sangrando até janeiro e sairão na propalada reforma ministerial. Uma verdadeira mazorca.
Será que agora partem para cima até do IBGE, sempre tão respeitável, sempre tão cheio de credibilidade?
Porque não enfrentar a inflação ajustando fiscalmente – a sério e não à base da cosmetologia – a economia?
Porque a necessidade de mistificar, atitude que é própria de regimes e mentes autoritários e que, portanto, não se coaduna com o Brasil que desejamos cada vez mais democrático e transparente?
Esse episódio precisa ser esclarecido em minúcias, o quanto antes. Se se tratar de manobra desonesta, que os governantes recuem dela. Seria maldade jogar na lama sobre o acúmulo técnico e de respeitabilidade do IBGE.
Arthur Virgílio, diplomata, foi líder do PSDB no Senado
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