A presidente perdeu uma rara oportunidade de ficar calada.
Ricardo Noblat
Na Austrália, do outro lado do mundo, sob o efeito do fuso horário,
talvez, como se ainda estivesse em cima de um palanque, certamente, a
presidente Dilma Rousseff concedeu sua primeira entrevista coletiva
sobre o arrastão de donos e executivos de empreiteiras que marcou na
semana passada mais uma etapa das investigações sobre a roubalheira na
Petrobras. Perdeu uma rara oportunidade de ficar calada.
Dilma foi vítima da síndrome do terceiro turno que não acomete apenas a
oposição. Disse um monte de bobagens, invenções e falsas verdades para
uma plateia de jornalistas que se deu por feliz em anotar o que ouviu.
E assim procedeu como se ignorasse que o distinto público conhece cada
vez melhor os vícios e espertezas dos seus representantes. Vai ver que
ela ignora mesmo.
Vamos ao que disse.
Teve o atrevimento de afirmar de cara lavada que “pela primeira vez na
História do Brasil” um governo investiga a corrupção. E não satisfeita,
culpou governos passados pela corrupção que acontece hoje na Petrobras.
Stop!
O governo dela não investiga coisa alguma. Polícia Federal e Ministério
Público investigam. Os dois são órgãos do Estado, não do governo.
Corrupção existe em toda parte e o tempo inteiro. Mas enquanto não se
descobrir que houve corrupção na Petrobras em governos anteriores aos do
PT, vale o que está sendo escancarado pelas investigações: o PT
privatizou, sim, a Petrobras. Apropriou-se, sim, dela.
Corrompeu-a, sim. E usou-a, sim, para corromper. Depois de Lula, Dilma é a figura mais importante da Era PT.
Corrompeu-a, sim. E usou-a, sim, para corromper. Depois de Lula, Dilma é a figura mais importante da Era PT.
Adiante.
Para Dilma, o escândalo cuja paternidade ela atribui a outros governos e
cuja decifração reivindica para o seu, “poderá mudar o país para
sempre. Em que sentido? No sentido de que vai acabar com a impunidade”.
Stop!
Sinto muito, Dilma, mas o escândalo que poderá mudar o país para
sempre, e que acabou com a impunidade, foi o do mensalão. Quer tirar de
Lula a primazia?
Dizer que “essa questão da Petrobras “já tem um certo tempo” e que
“nada disso é tão estranho para nós” é uma revelação digna de nota.
Primeiro porque o governo dela se comportou como se nada soubesse
quando estourou o escândalo. Segundo por que o máximo que ela insinuou a
respeito foi que havia demitido Paulo Roberto Costa, ex-diretor da
empresa, réu confesso.
Ora, ora, ora.
“Paulinho”, como Lula o chamava, saiu da Petrobras coberto de elogios
pelo Conselho de Administração da empresa presidido por Dilma até ela se
eleger presidente da República.
Foi um dos 400 convidados de Dilma para o casamento da filha dela. E ao
depor na CPI da Petrobras, contou com a proteção da tropa do governo.
Dilma nada fez para que não fosse assim.
Adiante, pois.
O escândalo da Petrobras não dará ensejo à revisão dos contratos do
governo com as principais empreiteiras do país, avisou Dilma. Muito
menos a uma devassa na Petrobras.
“Não dá para demonizar todas as empreiteiras. São grandes empresas”,
observou Dilma. “E se A, B ou C praticaram malfeitos, atos de corrupção,
pagarão por isso”.
Stop!
Quer dizer: mesmo que reste provado que as nove maiores empreiteiras do
país corromperam e se deixaram corromper, os contratos que elas têm com
o governo fora da Petrobras não serão revistos.
Não parece razoável que empresas envolvidas com corrupção num
determinado lugar possam ter se envolvido com corrupção em outros?
Por fim: se a Petrobras não pede uma devassa é só porque Dilma prefere que seja assim.
Dilma Rousseff (Imagem: André Coelho / Agência O Globo)
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