Marcelino Ribeiro
Vovó nenzinha, no próximo mês de
agosto, completaria 99 anos, bem vividos, se no mundo material ainda estivesse.
Chamamo-la de vovó nenzinha, mas
na realidade ela era avó da minha esposa , Suzan Jones.
No quesito memória, a juventude e
quarentões que se cuidassem, pois era irretocável.
Embora cega de um olho, vó fazia questão,
de assistir a quase todos os jornais e ouvir os principais fatos de rádios, sem
deixar de ler quase todos os jornais de Manaus , e quando eu chegava do
trabalho me relatava tudo minuciosamente.
Quando retornávamos, à tardinha da
Assembleia Legislativa, ela sempre abria o portão da garagem pro carro entrar.
Mal chegávamos, mais que depressa
vinha nos contar boas-novas do dia, quando a indaguei;
__ Sol foi bonito, hoje, né vó ? Ela,
mais que rapidamente me devolveu:
__ É, já lavei às minhas roupas e
algumas de vocês que estavam no cesto, porém tive que completar com outro
sabão, pois esse que deixaram sobre a geladeira, apesar de cheiroso, não espumou.
__ O quê? Não espumou, disse eu meio atônito: Algo deve
estar errado, vó; que estória é essa de Omo não espumar, respondi.
__ É, deixa as roupas
branquinhas, mas não espuma, repetiu.
Curiosamente fui dar uma olhadela na
lavanderia, e qual o tipo de sabão usado para lavar roupas, no que fui
surpreendido: ela confundiu uma caixa de bolo da Sadia, com uma caixa de OMO.
A coisa, no entanto, não para por aí, e pra
completar a checagem dos afazeres diários, perguntei-lhe:
__ A senhora já almoçou, vó?
__ Não estou esperando dar 12:30
h. , contudo esse relógio que você deixou parece que “parou” em 12 horas.
Nessa altura do campeonato, quase
5 da tarde, e ela esperando que o relógio mudasse de horário, coisa impossível,
pois o tal “BIG-BEN” era uma balança de pesar alimentos, com apenas um ponteiro
e, humanamente, jamais marcaria 12:30 h. Para vovó, nenzinha, a história teria
outro enredo, porque, se ela fosse esperar o relógio chegar ao horário estipulado para o
almoçar, nunca almoçaria...
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