Campanhas eleitorais costumam ser mais emoção do que razão. São sempre
criticadas por não se aprofundar em temas urgentes, por abusar dos
ataques e contra-ataques. Mas nunca antes na
história deste país uma
campanha foi tão infame e deseducadora. O retorno da presidente Dilma
Rousseff à liderança isolada da disputa depois de artilharia intensa –
tendo a mentira como principal arma – não deixa dúvidas. Corrobora com a
maquiavélica tese do vale tudo, de se fazer o diabo.
Marina Silva foi bombardeada por Dilma e Aécio Neves. Mas até o capeta
se assustou com a tática usada pelos petistas para desconstruí-la.
De uma hora para outra, a ex-ministra de Lula virou defensora do
capital e dos banqueiros, companheira de tucanos neoliberais que querem
aniquilar com as estatais, acabar com o Bolsa Família e com a CLT.
Especialistas em transformar os males que os afligem em virtudes, os
petistas rapidamente produziram uma nova Dilma contra a corrupção. Não
aquela Dilma-faxineira que chegou a fazer sucesso no primeiro ano de
mandato e que sucumbiu. Outra personagem, desta vez encarnando a líder
no combate à impunidade.
Há duas semanas, em todas as entrevistas e discursos – incluindo a fala
eleitoral na abertura da Assembleia da ONU –, Dilma empunha a bandeira
anticorrupção. Na sexta-feira, prometeu endurecer contra agentes
públicos que prevaricam, além de reformar a Justiça e criar leis para
facilitar a perda de bens adquiridos de forma ilícita.
Tudo promessas para um eventual segundo mandato, sem explicar por que até agora nada fez.
Garantiu ainda que pretende tornar crime a prática de caixa 2. Prova
inconteste de que, assim como o seu partido, ela desconsidera por
completo a lei eleitoral, que prevê punição de até dois anos de prisão
para o delito. Uma proposta feita pela OAB, que não obteve aval de seu
governo, amplia a pena para até oito anos.
Dilma ainda terá de explicar por que disse que não sabia de “malfeitos” na Petrobrás, quando, segundo reportagem do jornal O Globo,
ela própria, então ministra da Casa Civil, pediu para que a
Controladoria da União investigasse desvios apontados pelo TCU nas obras
da refinaria de Abreu e Lima, processo arquivado sem investigação.
Mas isso não apoquenta a presidente. Afinal, faltam apenas sete dias
para as eleições. A ordem continua sendo fazer o diabo. Ainda que se
saiba que a conta que ele costuma cobrar seja fatal.
Mary Zaidan É jornalista. E-mail: zaidanmary@gmail.com Twitter: @maryzaidan
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