A chamada CPMI do Cachoeira, hoje, inevitavelmente, da Delta Construções também, insiste, por sua maioria, em ser parcial. Exemplo disso é a recusa obstinada em convocar Fernando Cavendish, que, nos dez anos e meio de governo petista, transformou sua pequena empresa na grande “estrela” do PAC e na sexta maior empreiteira do país.
A Delta virou um polvo. Tentacular, espalhada pelo Brasil quase que inteiro. Ainda por cima dirigida por um homem que declarou estar acostumado a “comprar” deputados por R$5 ou R$6 milhões e senadores por R$20 ou 30 milhões.
O Congresso de Almino Affonso, Carlos Lacerda, Afonso Arinos, San Thiago Dantas, Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Daniel Krieger, não hesitaria um segundo: chamaria Cavendish a dar nomes aos bois. Estranhamente, parece que poucos se ofenderam. A declaração, agressiva e insultuosa, passou quase em branco, como se houvesse concordância tácita com o “comprador” de consciências.
Não bastasse isso, teve a triste e feliniana cena de Paris. A dos guardanapos na cabeça e do funk esquisito, no hotel ultra luxuoso, celebrando a mancebia entre o público (governador Sergio Cabral e seus secretários, o mais animado dos quais era o da Saúde) e o privado, representado por Cavendish e alguns outros privilegiados prestadores de serviços para o governo do Rio de Janeiro.
Pois a CPMI entendeu que não deveria convocar Cavendish e nem Sergio Cabral, apesar das ligações profundas entre a Delta e a administração deste.
Os que pensaram possível usar o instrumento de investigação parlamentar para meramente atingir o governador de Goiás, tiveram de engolir a desmoralização pública do petista Agnelo Queiroz, do Distrito Federal. E tremem de medo diante do que poderá sair da quebra dos sigilos da Delta.
Se puderem, valer-se-ão do período eleitoral para esvaziar a CPMI, saindodepois com relatório que será remetido ao Ministério Público com o exatoretrato de que a verdade inteira não foi buscada.
A sociedade está cansada dessas manobras. E se acostuma, mais e mais, a viver sem acreditar em políticos e em partidos.
Isso é péssimo para a democracia. Sem dúvida que é.
Mas seria a democracia uma prioridade verdadeira do grupo que está no poder? Não haveria a intenção de figuras exponenciais do Brasil oficial – ou oficioso - em diminuir, sistematicamente, as instituições?
O futuro dirá.
Arthur Virgílio é diplomata e foi líder do PSDB no Senado
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