Eu, como boa parte dos leitores de jornal, nem aguento mais ler as notícias que entremeiam política com
corrupção. É um sem-fim de escândalos. Algumas vezes, mesmo sem que
haja indícios firmes, os nomes dos políticos aparecem enlameados. Pior,
de tantos casos com provas veementes de envolvimento em “malfeitos”,
basta citar alguém para que o leitor se convença de imediato de sua
culpabilidade. A sociedade já não tem mais dúvidas: se há fumaça, há
fogo.
Não
escrevo isso para negar responsabilidade de alguém especificamente, nem
muito menos para amenizar eventuais culpas dos que se envolveram em
escândalos, nem tampouco para desacreditar de antemão as denúncias.
Os
escândalos jorram em abundância, não dá para tapar o sol com a peneira.
O da Petrobras é o mais simbólico, dado o apreço que todos temos pelo
que a companhia fez para o Brasil. Escrevo porque os escândalos que vêm
aparecendo numa onda crescente são sintomas de algo mais grave: é o
próprio sistema político atual que está em causa, notadamente suas
práticas eleitorais e partidárias.
Nenhum
governo pode funcionar na normalidade quando atado a um sistema
político que permitiu a criação de mais de 30 partidos, dos quais 20 e
poucos com assento no Congresso.
A
criação, pelo governo atual, de 39 ministérios para atender as demandas
dos partidos é prova disso e, ao mesmo tempo, é garantia de insucesso
administrativo e da conivência com práticas de corrupção, apesar da
resistência a essas práticas por alguns membros do governo.
Não
quero atirar a primeira pedra, mesmo porque muitas já foram lançadas.
Não é de hoje que as coisas funcionam dessa maneira. Mas a contaminação
da vida político-administrativa foi se agravando até chegarmos ao ponto a
que chegamos.
Fernando Henrique Cardos é ex~ presidente da República
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