Ricardo Noblat
Ninguém vai me separar do Lula. Sei da lealdade dele a mim e ele da minha lealdade a ele. Dilma
Na
última segunda-feira, à tarde, o mineiro Bernardo Santana, líder do PR
na Câmara, trocou a foto de Dilma que tinha no seu gabinete por uma de
Lula e leu com a voz empostada um documento assinado por 20 dos 32
deputados do seu partido pedindo a volta do ex-presidente.
À noite, em um restaurante de Brasília, revelou a uma eclética plateia as verdadeiras intenções que o levaram a fazer o que fez:
-
Na véspera, espalhei entre os fofoqueiros que a maior parte da bancada
estava disposta a romper com o governo. No dia seguinte, a imprensa
publicou. Aí eu vi que correria o risco de ficar quase sozinho. Então
pensei muito sobre o que fazer em seguida. Foi quando saquei que o apoio
ao “Volta, Lula!”, seria capaz de atrair a maioria da bancada. Deu
certo. A maioria ficou comigo. E não precisa necessariamente largar o
governo nem devolver os cargos.
- Era um passito à frente e dois
atrás. Se tivesse dependido de mim eu teria ido direto para o
rompimento. O rompimento de verdade com o governo Dilma. E aí passaria a
apoiar outro candidato a presidente. Quem? A maioria da bancada quer
apoiar Eduardo Campos. Eu já disse isso ao Aécio. Não tem jeito. Mas se
eu tivesse ido para o rompimento teria sido abandonado pela maioria. E
aí perderia uma grande vantagem.
Foto: Reprodução / GloboNews |
-
O “Volta, Lula” é uma forma de romper com o governo sem romper,
entende? Por uma questão de segurança, colhi assinaturas dos deputados.
Mas garanti a eles que não publicaria os nomes de jeito nenhum. Protegi
meus liderados. E ao mesmo tempo me protegi caso duvidassem que a
maioria apoia minha posição. Se o PT ficou feliz? Bem, uma grande parte
dele ficou feliz, sim. Não viu o Vacarezza que estava comigo naquela
mesa ali?
- O Berzoine me ligou. E a pedido dele fui encontrá-lo
no Palácio do Planalto. Ele perguntou: “Porra, que merda é essa?” Veja:
não foi ele quem me disse isso. Deduzi pelo semblante dele, pelo tom de
voz dele, que estava contente com a posição da bancada de apoio ao
“Volta, Lula!”. Não me ofereceu nada. Nem eu aceitaria. Ao apoiar o
“Volta, Lula!”, deixei claro que o partido apoiará Dilma até deixar de
apoiar.
- Se Lula vai topar ser candidato? Duvido. Lula é muito
inteligente. Ele sabe que o próximo presidente, seja ele quem for, será
obrigado a fazer os ajustes que a Dilma não fez. Vai ter que adotar
medidas duras que deixarão as pessoas insatisfeitas. Lula não entrará
nessa fria. Poderá vir mais adiante se apresentando como o pai da
pátria, o salvador da Nação. Mas agora, não. Ele não é tão corajoso
assim.
- O governo está pressionando todo mundo. Mas não tenho
medo que queiram investigar a minha vida. Dizem que fui um dos deputados
que mais gastaram para se eleger. Mentira! Posso ter sido um dos que
mais admitiram ter gastado muito. Mas 85% do que gastei foram
provenientes da minha empresa. Sou industrial. Voto no Congresso de
acordo com os interesses da indústria. Mas rabo preso? Não tenho.
- O Youssef [Alberto, doleiro]
vai abrir o jogo. Dizem que ele vai entregar cerca de 45 parlamentares
entre deputados federais e senadores. Não ligo para isso. Quem não deve
não teme. Sou filho, neto, bisneto, tataraneto de políticos. Estou no
primeiro mandato como deputado federal. Meu pai foi seis vezes deputado
federal e quatro estadual. Tenho orgulho disso.
- A Polícia Federal tem várias alas. E o governo não manda em todas. É por isso que muitas coisas estão por vir.
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