Liége Farias é cronista literária |
Na Avenida Eduardo Ribeiro, subia-se e descia-se glamourosamente, numa Manaus pacata e sossegada.O chique era ir passar as férias no Rio de Janeiro, o mar, o sol de Ipanema, pegar sol não era malígno, o sucesso do Maracanã. A moçada Vip adorava o Cine-Odeon,existiam também o Cine Avenida,o Cine Guarany e o Polytheama. A garotada amava também os Beatles, Rolling Stones, Roberto Carlos e Erasmo.
A Faculdade de Medicina recém inaugurada, vinham muitos rapazes do Sudeste e do Sul como estudantes excedentes e as garotas eram loucas para namorar um deles.
Mônika, amazonense filha de espanhola, possuía uma beleza incrível, uma européia da selva, lourinha, olhos azulzinhos, alta, linda de morrer! Salpicava sensualidade para todos os lados. Sua beleza era uma unanimidade, pena que o dramaturgo Nelson Rodrigues dizia que toda unanimidade é burra. Monkinha arrebentava em matéria de beleza e todos os rapazes queriam namorar com a bonitona do pedaço. O assédio era geral, sua cabecinha estremecia confusa, a rapaziada perdia as rédeas quando Mônica passava.
Monkinha tinha muitos homens aos seus pés. A gente não entende certas coisas da vida,com toda aquela beleza esbanjando, apaixonou-se por um acadêmico de medicina amazonense, feio, gordo e bem mais baixo que ela. Todos, os mais íntimos, diziam que ela era muito bonita pra ele. Na cara dela! Ela estava totalmente apaixonada pelo o que nós chamamos de batoré.As amigas diziam: "- Sua doida,esse homem é muito feio, sai dessa!"
Estava cega de paixão. E casou-se!Casou-se com o seu Deus Grego.
Tiveram três filhas. Duas com olhos azuis.
Monkinha estudou em colégio de freira, era e é extremamente católica, muito religiosa, estava feliz com suas filhas, enfim , tinha constituído uma bela família. Nunca foi retrógrada, entretanto, para ela o casamento era indissolúvel, o matrimônio, uma benção de Deus.
Alguns anos passados, ela ainda muita bonita,frequentadora assídua de academia, corpo malhado e..começaram os problemas. Descobriu que o marido tinha uma amante, uma mulher casada.Veio a separação, depois de uma violenta briga, foi tanta violência que foi irreversível : tudo acabado!
Como era ainda jovem e bonita lutou com um tempestuoso preconceito. O preconceito de ser uma mulher separada e jovem.Convites para reuniões socias não haviam mais. Ela representava um perigo para os homens casados, as mulheres inseguras e mal amadas, temiam a beleza e a sensualidade da Mônica. E a sociedade com seu ar hipócrita, lançava faícas venenosas que sangravam o coração da pobre mulher. Que gente cruel! Sociedade cínica! Sórdidas criaturas!
Não sei se ainda existe este tipo de preconceito nos dias de hoje, Monkinha disse-me uma vez chorando, que fui a única pessoa que a tratou sem discriminação nesta cidade.
Mônica está muito bem com a vida, viaja pelo mundo, o ex-marido morreu e sempre encontro-me com ela pra colocar o papo em dia.
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