Ricardo Noblat
Chega de farsa! A oposição não quer derrubar Dilma. Prefere vê-la arrastar-se, exangue, até o último dia do seu mandato. Para quê correr o risco de substituí-la já?
Para dar lugar ao vice do PMDB? Para ser obrigada a fazer com a economia o que Dilma está fazendo – ou coisa pior?
Para que Lula tente se recuperar em paz até a eleição de 2018? A essa altura, Lula torce para que Dilma renuncie. Logo...
Todo o poder a Dilma! Ou melhor: o mínimo de poder a Dilma! E o máximo de desgaste a ser compartilhado por ela com Lula e o PT – os três no “volume morto”, segundo o próprio Lula.
Recente pesquisa do IBOPE constatou que o “lulismo”, hoje, sustenta-se mal e mal nas áreas mais pobres do Nordeste. E mesmo ali está em processo de encolhimento.
Se uma nova eleição presidencial em segundo turno tivesse sido disputada na semana passada por Aécio Neves (PSDB) e Lula, Aécio teria vencido com folga por 48% a 33%.
Perderia para Lula apenas no Nordeste e entre os eleitores de menor renda e escolaridade. Na faixa dos que ganham mais de cinco salários mínimos, Aécio massacraria Lula por 72% a 28%.
Dilma obteve quase dois terços dos votos válidos (descontados os nulos e brancos) nos municípios em que o PT venceu no segundo turno as eleições presidenciais de 2006, 2010 e 2014.
Agora, nesses mesmos lugares, Lula atrairia 52% dos votos contra 48% de Aécio. Um empate técnico, a levar-se em conta a margem de erro da pesquisa que ouviu em todo o país 2.002 eleitores.
Eu sei, você lembra de 2006 quando Lula se reelegeu apesar de baleado pelo escândalo do mensalão. Ao invés de pedir o impeachment dele, a oposição achou melhor deixá-lo sangrar – e deu no que deu.
Compreendo o seu temor. Dizem que a História só se repete como farsa. Não posso garantir. Sei, porém, que 2006 pouco tem a ver com 2015. Ou nada.
Lula é Lula, Dilma, é Dilma. Lula tem carisma e é bom de gogó. Dilma não tem, e quando fala é quase sempre um desastre. Antológica a saudação à mandioca. Bem como à “mulher sapiens”.
Em 2006, Lula era popular, ainda recém-chegado ao poder. Os brasileiros concederam a ele e ao PT um desconto. Foi moleza derrotar o insosso Geraldo Alckmin. Tudo mudou desde então.
Menos de 10% dos brasileiros aprovam o desempenho de Dilma. Ela jamais será esquecida como uma pura invenção de Lula. E também por ter mentido à farta para se reeleger.
A crise econômica potencializou a crise ética que está na raiz da crise política. Essa se agravará caso a Lava Jato culmine com a eventual prisão de Lula. Somente ele sabe o que fez. Para estar com tanto medo... Sei não.
Só sei que pelo menos um partido e um político não têm queixas de Dilma: o PDT de Carlos Lupi e Eunício Oliveira (PMDB-CE), líder do PMDB no Senado.
Depois de apontar o governo Dilma como o mais corrupto da História, Lupi negociou com ele a demissão de Manoel Dias, ministro do Trabalho indicado pelo PDT. Irá trocá-lo por um deputado mais sujeito aos seus caprichos, digamos assim.
Há menos de um mês, Dilma compareceu em Brasília ao casamento da filha de Eunício com Ricardo Fenelon Júnior, advogado há três anos. Uma festança!
Na última segunda-feira, Fenelon acabou presenteado por Dilma com a nomeação para a diretoria da Agência Nacional de Aviação Civil.
O que ele entende do assunto? Nada. E precisa? Basta ser genro de senador aliado de uma presidente débil. Débil no sentido de frágil.
(Arte: Antonio Lucena)
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