Ricardo Noblat
Tamanho foi o medo que se abateu sobre boa parte dos políticos acordados em Brasília com a notícia de que a Polícia Federal madrugara à porta de casas e apartamentos de notáveis da República, que vários deles, por precaução, pegaram os primeiros voos com destino aos seus Estados.
Pelo menos um ex-senador, cujas digitais foram identificadas em dinheiro sujo da Operação Lava Jato, achou melhor decolar para um lugar mais distante – Miami, aonde pretende permanecer durante as próximas semanas à espera que a temperatura política esfrie por aqui. Se não der para esfriar, que baixe pelo menos.
Mesmo os que se julgam inocente e dizem nada temer ficaram assustados. “Eu sei o que fiz ou deixei de fazer, mas desconheço o que outros possam ter feito por mim”, justificou-se um deputado federal nordestino solidário com os colegas constrangidos com a ação dos agentes federais. E também ele muito nervoso.
Quem depende de doações de dinheiro para se eleger está com medo. Isso quer dizer: todo mundo. Da presidente da República para baixo. E nessas horas afloram os sentimentos mais primitivos. Um deles: o do corporativismo. Ontem, no grande palco do poder que é Brasília, os poderosos confundiam imunidade com impunidade.
Quem tem mandato não responde na Justiça pelo que disser no exercício dele. Quem tem direito a fórum privilegiado não pode ser alvo da Justiça comum. Mas nenhum dos incomodados pela Polícia Federal o foi pelo que disse ou deixou de dizer. E foi o Supremo Tribunal Federal que autorizou a polícia a fazer o que fez.
A queixa que está na boca de nove entre 10 cabeças coroadas da República passa pela ação – ou inação – de Dilma. Ela é culpada pelo que acontece porque já não comanda o governo nem o Estado. Ou Dilma é culpada porque nada faz para impedir que a polícia e o Ministério Público tirem a paz dos seus aliados.
Em resumo: espera-se de Dilma o que ela não tem mais forças para oferecer. Ou o que ela simplesmente não quer oferecer.
(Arte: Antonio Lucena ) |
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