Ricardo Noblat
Impeachment? Bobagem! “Eu não vou cair, isso aí é moleza”', afirma Dilma. A oposição? “É um tanto golpista”. Menos o PMDB que é “ótimo”.
Não, ela não se sente no volume morto, como observou Lula outro dia. Lula pode dizer o que quiser sobre o que quiser, que Dilma não se incomoda. Reconhece-lhe o direito.
Dilma concedeu entrevista exclusiva a Maria Cristina Frias, Valdo Cruz e Natuza Nerypublicada, hoje, na Folha de S. Paulo. Seguem trechos da entrevista:
- Respeito muito o presidente Lula. Ele tem todo o direito de dizer onde ele está e onde acha que eu estou. Mas não me sinto no volume morto não. Estou lutando incansavelmente para superar um momento bastante difícil na vida do país.
- Outro dia postaram que eu tinha tentado o suicídio, que estava traumatizadíssima. Não aposta nisso, gente. Foi cem mil vezes pior ser presa e torturada.
- [Dilma descartou a renúncia] Eu não sou culpada. Se tivesse culpa no cartório, me sentiria muito mal. Eu não tenho nenhuma. Nem do ponto de vista moral, nem do ponto de vista político.
- Falam coisas do arco da velha de mim. Óbvio que não [tenho nada a ver com o petrolão]. Mas não estou falando que paguei conta nenhuma também. O Brasil merece que a gente apure coisas irregulares. Não vejo isso como pagar conta. É outro approach. Muda o país para melhor. Ponto.
Os jornalistas perguntaram a Dilma o que ela achou da prisão dos presidentes das empreiteiras Odebrecht e Andre Gutierrez. Resposta:
- Olha, não costumo analisar ação do Judiciário. Agora, acho estranho. Eu gostaria de maior fundamento para a prisão preventiva de pessoas conhecidas. Acho estranho só.
- Eu não vou terminar [o mandato dela] por quê? Para tirar um presidente da República, tem que explicar por que vai tirar. Confundiram seus desejos com a realidade, ou tem uma base real? Não acredito que tenha uma base real.
As duas últimas perguntas da entrevista:
- Parece que está todo mundo querendo derrubar a sra.
- O que você quer que eu faça? Eu não vou cair. Eu não vou, eu não vou. Isso é moleza, isso é luta política. As pessoas caem quando estão dispostas a cair. Não estou. Não tem base para eu cair. E venha tentar, venha tentar. Se tem uma coisa que eu não tenho medo é disso. Não conte que eu vou ficar nervosa, com medo. Não me aterrorizam.
- E se mexerem na sua biografia?
- Ô, querida, e vão mexer como? Vão reescrever? Vão provar que algum dia peguei um tostão? Vão? Quero ver algum deles provar. Todo mundo neste país sabe que não. Quando eles corrompem, eles sabem quem é corrompido.
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Comento: o ponto forte da entrevista é a disposição revelada por Dilma de lutar pelo próprio mandato. Lutar com todas as forças. Desafiando, inclusive, adversários para que tentem derrubá-la.
Ela não dá pistas sobre como reagiria. E tudo o que diz pode ser mais retórica do que qualquer outra coisa.
Um processo de impeachment só vai adiante quando se ampara em provas de ilícitos. Por enquanto faltam provas. Mas isso não quer dizer que elas não possam aparecer.
Dilma manda com a entrevista um duro recado para Lula: o petrolão não foi obra dela. Portanto, só pode ter sido obra dele. E ela não se mexerá para atrapalhar investigações e possíveis julgamentos.
(Arte: Antonio Lucena ) |
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