O que tem a ver o caso da analista do banco Santander demitida
na semana passada por exercer direito o seu ofício, com o caso do
correspondente do The New York Times ameaçado de expulsão do Brasil em
maio de 2004?
Os dois aconteceram no começo e no que poderá ser o
fim do período de 12 anos de governos do PT. Foram protagonizados por
Lula. E são casos exemplares da prepotência dele e de sua turma.
De
volta ao futuro... Na época, pensei: o cara pirou. Só pode ser. Ou está
de porre. Compreensível que tenha se sentido ofendido pela reportagem
do The New York Times sobre seu gosto por bebidas alcoólicas.
Mas
daí a determinar a expulsão do país de Larry Rother, correspondente do
jornal mais importante do mundo? Sinto muito, era um flagrante exagero.
Uma escandalosa arbitrariedade.
Foi isso o que Lula ouviu dos poucos assessores com coragem para confrontá-lo.
Um
deles, durante reunião no gabinete presidencial do terceiro andar do
Palácio do Planalto, sacara de um exemplar da Constituição e apontara o
artigo que garantia ao jornalista o direito de permanecer no Brasil.
Então
Lula cometeu a frase que postei em meu blog às 15h16 do dia 12 de maio
de 2004, poucas horas depois de ela ter sido pronunciada.
Ele disse: “Fod.... a Constituição”.
Foi
mais ou menos isso que você leu. Um ministro que ouvira a frase
reproduziu-a para um assessor. E o assessor, que trabalhara comigo
durante vários anos, me telefonou contando.
Esperei durante o
resto do dia o desmentido que não veio. Ainda espero. Prevaleceu a
opinião sensata de Márcio Thomaz Bastos, ministro da Justiça, que
desaconselhou a expulsão por ilegal.
Impedido de consumar sua
vontade, Lula tentou tirar proveito político do episódio se comportando
como vítima. A presidência da República fora ultrajada por um
irresponsável jornalista estrangeiro.
Mas, generoso e obediente à
lei, o presidente desculpara o malfeitor depois que ele divulgou uma
nota dizendo que não tivera a intenção de ofendê-lo. Quanto ao jornal...
Recusou-se a desmentir o que publicara.
A coragem que sobrou à direção do jornal faltou à direção do Santander.
Em
discurso para sindicalistas em São Paulo, Lula cobrou do banco a
demissão imediata da analista, autora do boletim enviado para clientes
de alta renda relacionando a queda de Dilma nas pesquisas de intenção de
voto com a eventual melhoria do câmbio e valorização de ações de
grandes companhias.
E a cabeça da analista foi oferecida de presente a Lula.
Um
ato de subserviência. Que nem de longe parece ter envergonhado Emílio
Botín, presidente mundial do Santander, amigo de Lula e admirador
declarado de Dilma.
“O que aconteceu é proibido, pois não se pode
fazer manifestações que interfiram na decisão de voto”, cobrou Rui
Falcão, presidente do PT. Botín aquiesceu: “O boletim não representa a
posição do banco”.
E se o boletim tivesse afirmado o contrário?
Se
tivesse dito que a Bolsa de Valores subiria com o crescimento de Dilma
nas pesquisas? Lula pediria a demissão do seu autor? Falcão recriminaria
o banco por favorecer o voto em Dilma?
Lula e o PT aproveitaram a
ocasião para fazer Dilma de coitadinha! De alvo preferencial dos
poderosos. Perseguida como o fora durante a Copa do Mundo por uma elite
preconceituosa que não respeita nem mesmo uma mulher. Imagine!
Esse
tipo de jogada falsamente esperta e que aposta na ignorância coletiva,
se repetirá à exaustão até que o país conheça em outubro seu futuro
presidente.
Fiquem atentos para desmoralizá-la logo de saída.
Lula
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