Tal avô, tal pai adotivo e tal filho.
Há nove anos,
pouco antes de morrer, o mítico Miguel Arraes, três vezes governador de
Pernambuco, cassado e exilado pela ditadura de 1964, ouviu a provocação
feita por um amigo do seu neto, Eduardo Campos: “Não está na hora de
passar o chapéu, doutor?”.
Arraes respondeu de pronto: “Quem quiser que pegue”.
Isto é: não indicarei um herdeiro. Quem quiser que conquiste o lugar.
Entre amigos, mais de uma vez nos últimos anos, Lula disse que considerava Eduardo uma espécie de filho adotivo seu.
Quem,
dentro do PT, Lula formou para sucedê-lo no comando do partido? Por
todos os meios possíveis, Lula sempre deu um jeito de apagar quem lhe
pudesse fazer sombra.
Concorreu à presidência da República cinco vezes. Para substituí-lo por quatro anos apenas, Iluminou um poste chamado Dilma.
O
poste rebelou-se, bateu o salto no chão com raiva e decidiu tentar se
reeleger. Lula amaldiçoa a hora em que não abriu o jogo e combinou com
Dilma que em 2014 seria novamente a vez dele.
Agora é tarde. Nem
mesmo o fantasma de Marina Silva será capaz de remover Dilma do caminho
de Lula. Se depender de Dilma, Lula brilhará em sua campanha e a seu
serviço. Mas não dividirá o protagonismo com ela.
Arraes morreu de morte morrida aos 89 anos de idade. Eduardo, de morte inesperada, trágica, aos 49 anos.
Como
o avô e o pai adotivo, Eduardo não deixa herdeiros. Primeiro porque não
teve tempo para deixar. Segundo porque não fez questão de deixar.
Marina disputará a vaga de Dilma porque era vice de Eduardo – não porque fosse sua herdeira.
Pernambuco, um dos Estados mais politizados do país, ficou politicamente órfão.
Tamanha
era a força de Eduardo que ele se reelegeu em 2010 com 82% dos votos,
ganhou a eleição em todos os municípios do Estado, encabeçou nos últimos
quatro anos a lista dos governadores mais bem avaliados do país, e
juntou 20 partidos para derrotar fragorosamente o PT há dois anos e
eleger prefeito do Recife quem jamais disputara uma eleição.
Os
amigos, às suas costas, o chamavam de “O Imperador”. Pois bem: “O
Imperador” indicou para seu lugar um ex-auxiliar que, como o prefeito,
era novato em matéria de eleição – o técnico Paulo Câmara, ex-secretário
da Administração e da Fazenda de Eduardo.
O Datafolha, no sábado
passado, conferiu a Paulo 13% das intenções de voto contra 47% de
Armando Monteiro Filho, candidato apoiado pelo PT.
Se estivesse vivo, Eduardo daria um jeito de animar seus seguidores.
Dotado
de uma extraordinária autoconfiança, de uma capacidade de trabalho
invejada por amigos e adversários e de um admirável poder de persuasão,
para Eduardo não existia o talvez ou o quem sabe.
Parecia
convencido de que nada o impediria de atingir de fato seus objetivos. E a
se levar em conta sua curta, mas meteórica e bem-sucedida trajetória
política, estava certo.
Eduardo morreu convencido de que elegeria
seu candidato ao governo de Pernambuco, e de que venceria Dilma no
segundo turno com a ajuda de Aécio Neves, do PSDB.
Da única vez
que falou para milhões de brasileiros – cerca de 35 milhões, a audiência
do Jornal Nacional na última terça-feira -, cunhou a frase pela qual
começa a se tornar conhecido: “Não vamos desistir do Brasil”.
Pouco
depois de dizê-la, e como não parasse de falar, ouviu de Patricia
Poeta, apresentadora do telejornal, a advertência curta e grossa: “Seu
tempo acabou, candidato”.
Morreu no dia seguinte. Virou história.
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