As manifestações convocadas para o próximo domingo, em apoio ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, e para a próxima quarta-feira, contra o impeachment, serão decisivas para determinar o andamento do processo em Brasília. Não há impeachment sem apoio popular, e a força das ruas contribuirá para cristalizar as decisões nas mentes de atores ainda em dúvida.
Por ora, dois fatores estão ainda em aberto. O primeiro é a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) a respeito do assunto. Marcada para a próxima quarta-feira, a votação sobre o relatório do ministro Luiz Edson Fachin (foto) poderá dar andamento ou paralisar a formação tumultuada da Comissão Especial do Impeachment na Câmara. Caso Fachin dê ouvido às queixas do PCdoB e os demais ministros concordem com ele, ou caso algum dos ministros decida pedir vista do processo, tudo ficará parado até a volta do recesso parlamentar e judiciário em fevereiro.
O segundo fator é o mais importante, o PMDB. O partido do vice-presidente Michel Temer está rachado em relação à questão, mas caminha progressivamente na direção do apoio ao impeachment. Alguns sinais comprovam isso. A carta privada de Temer a Dilma que se tornou pública, em que ele se dizia desprezado pelo governo, no papel de “vice decorativo”. A substituição do líder do partido na Câmara, Leonardo Picciani, por seu xará mineiro Leonardo Quintão, mais propenso a indicar deputados pró-impeachment para a comissão especial. A disposição do partido em convocar uma convenção extraordinária para janeiro, para romper oficialmente com o governo.
Brasília ferve. O clima de briga de rua contamina cada manobra protelatória do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, para evitar que a Comissão de Ética da Câmara tome alguma decisão a respeito da acusação de que ele tenha quebrado o decoro ao mentir a respeito de suas contas na Suíça. Deputados volta e meia partem para xingamentos, agressões físicas e destruição dos equipamentos de votação eletrônica (houve pelo menos dois episódios só este mês). Decoro e ética são palavras que passam longe do Congresso por estes dias. A tensão se espalhou até pela festa de confraternização de fim de ano dos senadores, onde a governista Kátia Abreu (PMDB) jogou um copo de vinho sobre o oposicionista José Serra (PSDB), depois que Serra fez uma brincadeira grosseira com ela.
Com seu gesto de desespero ao acatar o pedido de impeachment depois de tentar todo tipo de chantagem, Cunha logrou seu objetivo: deixou Dilma em situação muito frágil. O desespero também é palpável no governo, que não conseguiu nem 200 deputados na votação para estabelecer a Comissão Especial. Será que, diante do avanço das manifestações e do andamento do processo, Dilma teria os 171 necessários para evitar ser julgada? A perda de apoio oficial do PMDB seria um golpe fatal, por isso os passos de Temer são tão decisivos.
Por receio de perder os poucos votos que ainda lhe garantem sobrevida, o governo agora manobra para uma votação célere no STF que permita resolver a questão ainda este ano. Mas tudo de que o país precisa agora é calma e tranquilidade. Impeachment não é um tema para decisões açodadas, e todos os ministros do Supremo sabem muito bem disso. Todos olharão para as ruas no fim de semana antes de tomar suas decisões.
Nenhum comentário:
Postar um comentário