Ricardo Noblat
Como os mais céticos suspeitavam, o PMDB tinha um preço, sim, para indicar nomes destinados a compor o ministério reformado da presidente Dilma Rousseff. E assim, depois de assinar embaixo da fatura, ela pôde, ontem à noite, recolher-se em relativo sossego aos seus aposentos do Palácio da Alvorada. Havia ganhado a batalha.
O preço do PMDB: dois ministérios para os deputados federais, mais dois para os senadores, e outro para deputados e senadores desde que eles sejam capazes de se entender em torno de um nome. Na véspera, Dilma fora dormir aflita. O PMDB ameaçara ficar de fora do seu novo governo. Poderia ser o começo do fim.
A trinca de caciques do partido (Michel Temer, vice-presidente da República, Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, e Renan Calheiros, presidente do Senado) fora consultada por Dilma e se negara a apadrinhar novos ministros. Alegara que não o faria para não dificultar a tarefa dela de enxugar o governo.
Mas o PMDB não se resume aos seus caciques. E pelo PMDB falam muitos. Dilma pediu então socorro a Luiz Fernando Pezão, governador do Rio de Janeiro, a Leonardo Picciani, líder do PMDB na Câmara e que almeja se reeleger para a função no próximo ano, e a Eunício Oliveira, líder do partido no Senado. Deu certo.
Entre os ministérios a serem controlados pelo PMDB, está a joia da coroa – o Ministério da Saúde, o de maior orçamento e importância da área social, com uma capilaridade capaz de oferecer empregos e oportunidades de negócios a quem souber aproveitar. O PMDB tem políticos experientes e aptos para a tarefa.
Renan cedeu à tentação e fez jogo duplo. De público, dissera que não patrocinaria nomes para o ministério. Por meio do colega Eunício, negociou a indicação de nomes, sim. Queria emplacar o novo ministro da Integração Nacional. O atual é do PP. O filho de Renan, governador de Alagoas, depende de verbas da Integração Nacional.
Dilma barganhou. Ofereceu a Renan o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, cujo titular no momento é o empresário Armando Monteiro Neto, do PTB. Dilma não gostou de ter visto Armando criticando medidas do ajuste fiscal. Seria uma maneira de acertar as contas com ele.
De olho nos acertos para o anúncio em breve do governo renovado, o PMDB votou disciplinadamente na sessão do Congresso que apreciou, à noite, os vetos de Dilma a projetos que criavam novas despesas. Disciplinadamente significou: pela manutenção dos vetos. O governo celebrou o resultado. Saiu tudo como ele queria.
O PMDB foi esperto. Pegaria mal se ele derrubasse os vetos à criação de novas despesas depois de tanto malhar o governo por sugerir o aumento de impostos e a criação de novos. Com o dólar alcançando um valor jamais registrado antes na história do Real, não interessava ao PMDB contribuir para que ele, hoje, batesse novo recorde.
Em resumo: o PMDB foi dormir como um partido responsável e merecedor da confiança do sistema financeiro e das classes produtoras. E também como um partido que tomou do PT a condição de o partido mais forte de um governo que ainda teima em respirar. A cada dia a sua agonia.
Renan Calheiros, presidente do Senado |
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