Carlos Costa é jornalista e Assistente Social |
Singravam as águas do Rio Solimões vindos do Estado do Pará, um dia um e outro dia o outro, os navios Augusto Montenegro e Lauro Sodré, mas sempre passavam na madrugada, na comunidade de Varre-Vento. Nunca os avistávamos navegando juntos! Mas iluminavam tanto que passamos a chamá-los de “cidades flutuantes” porque clareava toda nossa casa de madeira coberta de zinco e palha.
Ah, que saudades tenho das duas “cidades flutuantes”, que causavam alegrias e que desespero quando avistadas ao longe!
De tanto meu pai, acordar, na madrugada, para colocar a canoa a salvo das fortes ondas produzidas pelos dois navios, decidiu puxá-la para a terra todas as vezes que precisávamos usá-la, por pura necessidade, para deslocamentos alguém da família à remo pelos rios. Assim, de madrugada, em torno de 3 horas da manhã, deixamos de acordar para puxar a canoa. Era apenas para apreciar o suave deslizar dos navios embicando água para os lados, produzindo fortes, terríveis e desesperadores banzeiros, que muitos caboclos aproveitavam para “pegar ondas” em pequenas canoas indo para cima e para baixo, como se fosse um balé sem música!
Ah, como eram deliciosas e preocupantes a passagem dos dois navios da Enasa, lindos, grandes, maravilhosos e bastante iluminados. Na mente da criançada de Varre-Vento, que nunca tinha visto tantas luzes juntas em um mesmo local, eram apenas duas “cidades flutuantes andantes”, transportando pessoas com sonhos, alegrias e tristezas.
Como seriam possíveis tantas lâmpadas, dentro das “cidades flutuantes” de nossas imaginações, navegando suavemente pelo Rio Solimões? Nunca tínhamos visto nada daquilo e ficávamos imaginando “como será que conseguem andar as lâmpadas, acompanhando os navios?” “Ou não acompanhavam? “Estavam dentro dos navios?”
Eram perguntas que só comecei a entender as respostas depois que meu pai, anos depois, colocou luz elétrica em nossa casa, ocasião em que fiquei gostosos momentos acendendo e apagando uma lâmpada incandescente presa em um fio branco pendurado na sala, terminando em uma chave redonda branca com o plug que fazia “tec” quando acendia e “tec” quando apagava. Fiquei brincando admirado, acendendo para ouvir o “tic-tac” e observar o filamento da lâmpada transparente acendendo e apagando.
Será que Thomas Alva Edison, inventor de 2.332 patentes,também chamado de “O Feiticeiro” ou Menlo Park” sentiu a mesma emoção que tive, quando acendeu o filamento de sua primeira lâmpada elétrica, pela primeira vez?
- Para com isso, meu filho? Você parece um bobo acendendo e apagando essa lâmpada!! Era meu pai, me chamando à atenção porque eu acendia e apagava a lâmpada, sempre olhando para o rumo a lâmpada, ouvindo o gostoso som aos meus ouvidos do “tic-tac”; tudo só para ver o filamento clareando e depois escurecendo o ambiente.
Não. Não estava bobo! Só queria mesmo saber como os navios Augusto Montenegro e Lauro Sodré conseguiam navegar pelo Rio Solimões com tantas luzes acesas? Será que tinha uma chave única para ligar todas as luzes ao mesmo tempo?
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