quinta-feira, 13 de outubro de 2011

SANTA VIAGEM!

Liége Farias é cronista literária 
Moro na Amazônia e o meu açougueiro de origem oriental, “olho puxadinho”, parece conhecer o Amazonas muito mais que eu. Sinto asco das pessoas soberbas que negam suas origens. Minha convivência com a Amazônia é extremamente parca. Aquelas embarcações que singram nossos misteriosos rios, com gente “saindo pelo ladrão”, faz tempo que não vejo.
Outro dia, numa conversa com uma colega de trabalho, contou-me ela que, junto com um grupo de amigos, todo ano faz uma peregrinação até a cidade de Itapiranga, lugar santificado em decorrência da aparição de Nossa Senhora. Esta minha colega, um misto de circo e vulcão, é uma pessoa altamente católica e de uma fé incomensurável na mãe de Jesus.
A viagem até Itapiranga é feita através de uma embarcação fretada e fiquei deveras assombrada com as acomodações desse grupo de peregrinos. Disse-me ela que todos são alojados em suas redes, umas sobre as outras, que só de saber, confesso, fugiu-me por alguns segundos o fôlego.
Em uma dessas viagens, ocorreu um fato que minha amiga quase esquecia que estivesse em uma romaria e por pouco não perdeu as “estribeiras” – não fosse a sua ardorosa fé na Santa de sua devoção, afinal aquela viagem era, acima de tudo, um caminho reservado ao amor, fraternidade e à paz.
De repente sentiu falta do marido. Procurando seu cônjuge entre aquele festival de redes, conseguiu localizá-lo. Lá estava ele, quietinho na sua rede. Porém uma corpulenta morena estava na rede de cima, tão em cima da rede do maridão, que chegava mesmo a encostar uma na outra. A parte vulcânica dessa minha amiga quis entrar em erupção, mas controlou-se; ia ao encontro ao lugar da aparição de Nossa Senhora. Mandou uma sobrinha advertir à moça para que a mesma subisse sua rede. A sobrinha obedeceu:
-Moça, a senhora está em cima do meu tio.
A morena, com toda a sua morenice brejeira, replicou:
-Não tenho culpa se a minha rede baixou.
Não houve outro jeito senão falar com o próprio marido para que saísse daquele lugar não apropriado para um homem casado:
-Ei, tu não estás vendo que esta mulher está em cima de ti?
Que nem um relâmpago, o marido da minha amiga, temendo um escândalo, deu um jeito de sair daquele lugar, contorcendo-se como uma cobra.
Em nome da Santa mãe de Deus, os dois foram dormir juntinhos lá no porão do barco. Santa viagem!

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