Ricardo Noblat
Está nas mãos da presidente Dilma Rousseff a chance de escapar da degola. Ou da hemorragia que a levará a se esvair até o último dia do seu mandato. Basta que concorde com tudo o que seu Lula mandar.
É assim que pensam os que rodeiam Lula, e ele. Mas que se apresse porque o tempo passa, a Lusitana roda e daqui a pouco nem mesmo Lula, o aspirante a milagreiro, conseguirá operar o milagre prometido.
Esqueçamos que, outro dia, Lula fez pesadas críticas a Dilma. Acusou-a, por exemplo, de ter mentido durante a última campanha eleitoral. Como se ele fizesse política sem mentir.
Acusou-a de fazer um governo de surdos, distante dos chamados movimentos sociais. E de estar, em resumo, no “volume morto”. Assim como o PT estaria abaixo do “volume morto”.
Não quis relembrar as críticas, mas relembrei. Era tentador! Asiante.
Lula ainda vê uma forma de, salvando Dilma – quem sabe? –, salvar o projeto de continuidade do PT no poder. Passaria por uma série de providências.
A primeira: uma reforma ministerial ampla, geral e irrestrita. Para reforçar a presença de partidos aliados no governo, mesmo que à custa do sacrifício do PT.
Sairia Aloizio Mercadante da chefia da Casa Civil da presidência da República. No lugar dele entraria Jaques Wagner, atual ministro da Defesa.
Sairia do Ministério da Justiça José Eduardo Cardoso, e entraria Michel Temer, vice-presidente da República.
Sairia da Secretaria-Geral da presidência da República Miguel Rosseto, e entraria Gilberto Carvalho, amigo de fé, irmão de Lula, camarada.
Sairia Pepe Vargas, ministro da Secretaria de Direitos Humanos do Brasil, para a entrada de qualquer outro.
Eliseu Padilha, ministro da Viação Civil, assumiria o ministério das Relações Institucionais.
O jornalista Franklin Martins substituiria Edinho Silva, ministro da Secretaria de Comunicação Social, ex-tesoureiro da campanha de Dilma no ano passado, e enrolado com a Operação Lava Jato.
Aproximação com o PSDB? Aproxime-se pra lá! O trunfo é pau, ô meu! Nada de demonstrar fraqueza.
Reduzir o número de ministérios? Nem pensar. A economia não significaria grande coisa.
Seria reaberta a temporada de loteamento de cargos no governo e de pagamento de obras construídas nos redutos eleitorais dos parlamentares. Velharia? Mas funciona, não duvide.
Eduardo Cunha: venha para cá, meu velho!
Sinto muito, Dr. Levy, mas o senhor perderia o emprego porque virou o ministro símbolo da rendição do PT ao arrocho.
Entraria outro para manter a mesma política, entendendo, porém, que de nada servirá mantê-la se isso implicar na queda do governo.
Algum dinheiro irrigaria os cofres dos movimentos sociais. E, sem grandes custos, seriam feitos acenos demagógicos para o populacho.
Quanto a Lula...
Em caso extremo, observadas essas e outras condições inconfessáveis de público, ele iria para o sacrifício de assumir algum ministério.
O das Relações Exteriores, não. Ficaria obrigado a viajar muito por aí com a imprensa em seu encalço.
O ministério da Defesa? O lugar seria adequado, sim, para um ex-presidente da República. E o livraria das garras do juiz Sérgio Moro.
Quanto a Dilma...
É para dizer a verdade? Dilma continuaria desempenhando todos os papéis de representação que cabem a um presidente. Aumentaria sua agenda de viagens ao exterior e aos Estados.
Mas na prática deixaria que Lula, com a discrição possível, coordenasse o governo. Ou melhor: governasse.
É pegar ou largar! Se não pegar, olha o Temer aí, gente!
(Arte: Antonio Lucena) |
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