segunda-feira, 3 de agosto de 2015

A SUICIDA

 Por José MARCELINO RIBEIRO

O local repleto de pessoas, quando momentaneamente surgiu uma mulher embriagada, zanzando na via pública. Ora se lançava à frente de carros, ora os chutava. Nesse ínterim, o aglomerado de gente recrudescia, e como uma vedete, tentava arrancar do grande público, risos. Cláudia cada vez mais se exasperava para não pôr fim a vida. Descontraidamente, um grupo de jogadores de brilharito resolveu participar daquela sena grotesca.
_ Ah!  minha filha, tu queres morrer? Vens que te jogo de encontro a um ônibus, comentava um rapaz descontraído.
_ Ela lá quer morrer. Se o quisesse, o primeiro carro que passasse se jogaria terminantemente sob os pneus do couraçado, logo, logo, partiria dessa pra melhor, arrotava outro transeunte, que na hora espera um táxi.
Valha-me Deus!, essa mulher, realmente quer perder a vida aquilo de mais precioso temos, falava enfurecido um dos jogadores de bilhar.
_ Taca-lhe a mão na cara, estar precisando é de muita porrada, gritou outro parceiro , pálido com o desenrolar da cena , naquele instante.
Entre gritaria de socorram a mulher, risos e pedidos para que chamassem a polícia, chega o marido da que tentava dar cabo à vida.
_ Não quero mais saber de ti, dizia Cláudia, aos berros cada vez mais histéricos.
_ Vamos pra casa cuidar dos nossos filhos, implorava João. Cláudia, no entanto, não queria acordo. Só mesmo morrer lhe interessava naquela hora, desencantada com a vida que desfrutava, desgarrou-se das mãos do seu companheiro, como quem dá um impulso de um trampolim para mergulhar em uma piscina.
Numa ação quase imperceptível, João deu-lhe uma gravata, logo em seguida, meteu-lhe os cinco dedos no foucinho. Ah! Não prestou. Ela esperneou, xingou a mãe de todos que estavam ao redor. Foi um carnaval fora de época.
_ Escuta aqui, ó sua... respeite. Estás pensando o quê? Acho bom, calar-te, antes que me aborreça, reagiu o moço que espreitava o fato.
_ Vai-te embora, Cláudia, dizia “ pequeno”, dono do bar onde ocorria o incidente. Deixas de aperrear o nosso recinto. Queres nos precipitar. Vais cuidar dos teus filhos. Ela, porém, não fazia acordo nem com o homem que supostamente amava, imagine as pessoas que rogavam para que parasse com aquele espetáculo.
_ Lá  vêm os “homes”, Cláudia, diziam alguns, pra ver se a coisa se acalmava e nada. Ah, não prestou. Foi nego correndo pra todo lado. A sirena da polícia aberta,  como numa operação de guerra os policiais, de supetão, jogaram-na dentro do camburão, como se fosse um saco de mercadoria qualquer. E a partir daquele momento, Cláudia, certamente veria o “sol quadrado”. Feita a operação, a viatura saiu em velocidade que até hoje não se sabe o itinerário tomado.
A verdade é que, numa fração de segundo não se notou a presença de uma pessoa, sequer, no local. Talvez com medo de prestar depoimento na delegacia, onde Cláudia, possivelmente ficou detida, pois todos fugiram com a rapidez de uma estrela cadente, com receio, sem dúvida, de serem inquiridos a prestar esclarecimentos aos que a detiveram.


José MARCELINO RIBEIRO é graduado em Comunicação Social  (jornalista) e autor de Um Bacurau No Poder.

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