As mais de 171 mil pessoas de Manaus, já circulavam preguiçosamente em bondes elétricos pelas ruas de paralelepípedos da capital, no governo de Fileto Pires Ferreira. Depois do Município de Campos, no RJ, Manaus foi a segunda cidade do Brasil a possuir esse meio de transporte impulsionado por energia elétrica. Era uma novidade e também gostoso e divertido se correr atrás dos bondes para se entrar neles em pleno movimento, como eu fiz muitas vezes nos ônibus da empresa Ana Cássia, quando deixava minha casa no bairro da Betânia, pela madrugada para vender jornais, andando à pé pelas ruas, calçando minhas sandálias havaianas desgastadas pelo tempo de uso! Ah, que saudades!
O Amazonas estava no auge de sua produção da borracha e as principais ruas da capital eram calçadas com paralelepípedos revelado em seus trilhos expostos o que tinha sido a riqueza da borracha, como veias de sangue que impulsionavam o corpo da cidade, meio ao calçamento de pedras, bem diferente dos tubos de gás enterrados embaixo da terra, durante o Governo de Eduardo Braga, que até hoje não serviram para nada, muito menos para receber o gás provindo da reserva de Urucum, no município de Coari!
Homens de vestidos com paletós de linho branco e chapéu coco na cabeça, se dirigiam ao cais do porto da cidade para despachar suas borrachas ou receber algum parente vindo de navio “da Europa”. Depois, entravam e namoravam dentro dos bondes, que deslizavam preguiçosamente pelas ruas da cidade. Às vezes, se corria para pegar o bonde de tão lento que ele andava!
Os ingleses dominavam a economia do Estado e construíram uma “cidade” ao gosto deles para executar melhor a “escravização” dos nordestinos (in “A ILUSÃO DO FAUSTO”/”O CAMINHO NÃO PERCORRIDO”/ “EXPRESSÃO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL NO MÉDIO JURUÁ – AMAZONAS”), ocupavam imensas bangalôs à margem dos Rios Negro , Solimões e no vale do Rio Juruá.
Dessa charmosa época, nada ficou preservado no Amazonas. Dessa mesma época existem alguns prédios tombados pelo IPHAM – Instituto de Patrimônio Histórico e Geográfico do Amazonas, mas já estão tombando literalmente pela total falta de manutenção preventiva e incentivo financeiro para que seus proprietários os recuperem; uma biblioteca pública estadual que está sendo “restaurada” há vários anos e só um bonde do acervo da Secretaria de Estado da Cultura, mas que serviu de decoração em um evento particular.
O bonde não funciona mais. Só existe o esqueleto do que teria sido um bonde de verdade. As catraias também desapareceram com o aterramento dos igarapés e a construção de Pontes ligando bairro a bairro.
Historicamente falando, o bonde surgiu quando Eduardo Ribeiro ainda ocupava o cargo de Governador do Amazonas e o engenheiro Frank Hirst Habberwhite venceu a licitação para construir 20 km de linhas, dando origem a Manaus Railway Compeny, que iniciou a instalação das linhas na cidade as quais ficaram expostas até finais dos anos, desde o dia 14 de agosto de 1895 até o início da década de 70, quando foram impiedosamente arrancados os trilhos, junto com os paralelepípedos e as ruas antigas passaram a para receber o asfalto negro, da cor da noite, acabando com o bucolismo romântico da cidade! Poucas ruas do centro histórico de Manaus, atualmente abandonado pelo descaso, permanecem com seus originais paralelepípedos.
Recentemente, Manaus foi toda escavada e esburacada para receber os canos de o gás encanado de Urucum, mas nunca chegou a funcionar esse serviço. Até uma Companhia Amazonense de Gás chegou a ser criada, mas também não deu em nada. A culpa não afirmo de quem seja, porque pode haver um ou vários culpados juntos, um jogado a culpa para o outro, como sempre ocorre no Brasil!
Trilhos de bondes permaneceram cravados no coração das pedras como se fosse um aviso para ao futuro em todas as principais ruas da cidade por onde os bondes trafegavam e corriam de maneira preguiçosa e lenta em meio às palmeiras imperiais que enfeitavam a Praça da Matriz; por toda a extensão da Avenida 7 de Setembro, que corta Manaus de uma ponta a outra; Avenida Getúlio Vargas, também muito arborizada e ainda permanece assim, felizmente
A Rua 10 de Julho ganhou uma linha de bonde só para que as famílias pudessem se dirigir aos espetáculos promovidos no Teatro Amazonas. A Rua 10 de Julho entrecortava a Avenida Getúlio Vargas com seus trilhos de bondes e subia a Avenida Joaquim Nabuco. Tudo isso, o tempo levou, só restando em meu coração de sonhador a lembrança e uma grande saudade. Nessa época, todas as várias Ruas de Manaus cortavam a Avenida Getúlio Vargas, mas depois foram fechadas por um prefeito, gerando protestos exasperados nos jornais de Manaus.
A Rua 10 de julho, que passa ao lado do Teatro Amazonas, em homenagem ao dia da abolição dos escravos no Estado pelo Governador Teodoreto Souto três anos antes da assinatura da Lei Áurea, pela princesa Izabel, era toda recoberta de látex para não produzir ruídos pelas rodas das carruagens e depois dos bondes elétricos, que também circulavam por aquele rua.
Manaus era assim: preguiçosa, bucólica, linda em contraste com os quase dois milhões de pessoas que invadiram e criaram novos bairros, passaram a jogar lixo nas ruas e hoje reclamam quando chove transborda as águas, entope bueiros, alaga ruas, porque embora a nossa capital não possua morro, existem muitos igarapés que a cortam a cidade, o que causa alagações. Mas as águas não conseguem escorrer devido as obstruções que encontram pelo caminho!
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