domingo, 29 de janeiro de 2012

ESCÂNDALO

Liége Farias é cronista literária
Na boca o gosto de sangue após forte bofetada. No meio da rua, uma jovem recebia ofensas de todo tipo. Cena patética! Os gritos chamavam a atenção dos arredores, todos lançavam seus olhares em direção aos gladiadores.
Briga de casal em via pública. Roupa suja lava-se em casa. Dois jovens, casados, namorados, ficantes ou amantes. Briga feia! Avenida Brasil, muitos anos atrás. Vi muita coisa escabrosa lá da Clínica Santa Maria.
O bate-boca desenvolvia-se em agressões físicas e verbais. O rapaz, até o tucupi de ódio, esmurrava e falava irado:
- Vagabunda, piranha, puta...
De acordo com Nelson Rodrigues, as mulheres gostam de apanhar. Todas não, só as normais. A Dramaturgia Rodriguiana parece louca e absurda. Nelson era repórter e viu coisas estranhas em cenas cotidianas. Viu a vida com ela é.
A garota, vestido bem curtinho, era sacudida, levava safanões e não dava uma palavra. As pessoas receavam chegar perto pois séculos ouve-se falar que em briga de marido e mulher, não se mete a colher!
Eu, junto com alguns funcionários da Clínica, fomos para a calçada em decorrência do espetáculo armado, o escândalo estava esquentando, o negócio estava pra lá de Bagdá!
Fiquei aflita, tive dó da jovem, nem uma palavrinha esboçava, um verdadeiro cordeirinho, recebia as ofensas com palavrões a valer, sem reagir.. Gritei:
- Façam alguma coisa, que homem covarde. Ela já apanhou demais!
O amor é um sentimento que anda pertinho do ódio. No campo sentimental, as pessoas sentem-se donos um do outro, brota ciúme de uma ou ambas as partes. É bem pior se a classe social é pouco privilegiada, a violência costuma ser maior, criados na "porrada", sem diálogos, cruentos e sem afeto. Ai do ser humano que não experimentou afeto no decorrer dos primeiros anos.
Voltando para a briga do casal, lembro que o vestido curtíssimo da moça espancada, era branco. E o moço, não economizava puxões de cabelo. Panorama Dantesco!
Para alívio meu, apareceu um táxi, ela fez sinal de parada com o braço e o táxi parou. Rapidamente, a menina entrou no carro, junto com a amiga. Esqueci de falar que havia uma amiga, aliás, uma heroína que ajudou a companheira o tempo todo.
Entraram no automóvel e a jovem agredida, colocou a cabeça para fora e berrou:
- Seu corno!

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