Por Álisson Castro e
Cleidimar Pedroso
Manaus - Nos últimos dois anos, Manaus enfrenta a ameaça de mudanças
significativas relacionadas ao lixo, como a cobrança de uma taxa pela coleta e
a privatização do aterro sanitário, sem garantias de melhoria do serviço
prestado pela prefeitura. E enquanto as anunciadas alterações não são
implementadas, a população ainda convive com a precariedade da coleta, igarapés
poluídos e o tratamento inadequado dos resíduos sólidos.
A atual administração municipal, sob o comando do prefeito
Amazonino Mendes, propõe no último ano de seu mandato a privatização dos
serviços relacionados aos resíduos sólidos, incluindo o novo aterro sanitário.
O atual, em operação no KM-17 da rodovia AM-010 (Manaus-Itacoatiara), tem
apenas mais cinco anos de vida útil.
A prefeitura pretende licitar uma Parceria Público-Privada para
construção e manutenção do novo aterro sanitário. A empresa escolhida irá
administrar o novo aterro por 30 anos e a operação custará R$ 2,322 bilhões aos
cofres públicos. A coleta do lixo deve continuar sendo feita pela administração
municipal.
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Limpeza Pública
(Semulsp), o local recebe, em média, 80 mil toneladas de lixo por mês.
Nos bairros, a população tem sofrido com a coleta irregular e sob
condições impróprias. Em abril, moradores de bairros das zonas norte, sul e
leste reclamaram do atraso de até quatro dias na coleta do lixo domiciliar, que
era realizada em caçambas, obrigando os garis a fazerem maior esforço.
“A frente das nossas casas fica cheia de tapurus e com um odor
muito forte. A caçamba é alta demais e os garis têm dificuldade para colocar o
lixo no carro. Às vezes, quando tem muito lixo, eles não recolhem”, descreveu à
época o eletricista Renê Alves, 50, morador da Rua 48 do bairro Amazonino
Mendes, zona norte.
Além da coleta deficiente, a prefeitura não conseguiu resolver o
problema das lixeiras viciadas nas entradas de becos, nas margens dos igarapés
e em áreas verdes, seja em bairros da área nobre da cidade ou na periferia.
Também faltam lixeiras públicas nas ruas da cidade.
Em outro caso de problema do lixo na cidade, as associações de
catadores tiveram que acionar o Ministério Público do Estado (MP-AM) para
continuar trabalhando na reciclagem dos resíduos.
Falta arborização e igarapés estão poluídos
Outra questão ambiental que o novo prefeito não pode se furtar de
solucionar é o reflorestamento da cidade. O juiz da Vara Especializadaem Meio
Ambientee Questões Agrárias (Vemaqa), Adalberto Carim, salienta que Manaus,
apesar de estar no coração da floresta, é uma cidade extremamente
desarborizada. “Revistas científicas mostram que existem discrepâncias no clima
na cidade e a diferença pode ser de até um grau. Ninguém se sente mal ao andar
ou dirigir pela Avenida Getúlio Vargas, por exemplo”.
Segundo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade
(Semmas), desde 2009, mais de 68.140 árvores de várias espécies foram plantadas
em vias públicas da cidade. Mas a reportagem constatou que muitas mudas foram
plantadas com o saco plástico, sem grade de proteção e em covas preenchidas com
resto de cimento e tijolo.
A cidade também tem poucos parques e espaços para população se
socializar e entrar em contato com a natureza. “Temos o Mindu, mas ele precisa
de auxílio. É provado cientificamente que a míngua de parques e espaços onde a
população possa se socializar é um fator de promoção da violência”, disse
Carim.
Outra questão é que a cidade é cortada por 1.017 igarapés e grande
parte deles está poluída, com suas margens obstruídas por palafitas. Por dia,
são recolhidas dos igarapés de Manaus 30 toneladas de lixo, em média, de acordo
com dados da Secretaria Municipal de Limpeza Pública (Semulsp). A coleta é
feita nos igarapés do São Raimundo, Educandos, Igarapé do 40 e Mestre Chico.
Desde2009, aSemmas alega que já combateu 145 invasões e a
principal área afetada é a zona oeste, que ainda conta com uma grande área de
mata nativa.
O Centro Histórico não pode ser esquecido pelo futuro
administrador da cidade. Carim salientou que o código de crimes ambientais tem
uma parte específica para os crimes contra o patrimônio histórico. “O prefeito
tem que corrigir a balburdia do Centro. A Avenida Joaquim Nabuco, onde moraram
várias personalidades históricas, foi deixada ao léu. As fachadas das casas da
‘belle époque’ estão caindo ou sendo mutiladas por empresário inescrupulosos”,
disse o juiz.
A poluição sonora também é comum e representa 70% das denúncias
feitas à Semmas.