Eu e o poeta do azul Ernesto Penafort, engenheiro de profissão e bancário de carreira, nos encontramos para um momento telúrico-poético-saudosista no Bar do Armando, o reduto dos boêmios em Manaus.
Carlos Costa é jornalista e Assistente Social |
Em meio aos nossos delírios poéticos, ele saudosista de uma cabra que tinha até nome, eternamente apaixonado pela sua ex-esposa, chegou uma viatura policial:
- Documentos por favor. Era um soldado pedindo a identificação de todos os que ocupavam uma mesa na calçada do Bar do Armando.
- Documentos por favor. Era um soldado pedindo a identificação de todos os que ocupavam uma mesa na calçada do Bar do Armando.
Tratei de tirar o meu e o mostrei. Ele bateu em continência e foi falar com o “poeta do azul”, como era mais conhecido o Penafort, que foi logo dizendo:
- Não vou me identificar, não! Sou engenheiro de profissão e funcionário concursado do Banco do Brasil. Sou o Ernesto Penafort, sussurou com uma voz rouca e embargada pelas cervejas que já tomara.
O soldado, com toda delicadeza, disse apenas:
- Senhor, como não o conheço, vou falar para meu superior que o cidadão não quer se identificar!
Foi até o carro parado um pouco mais à frente, comunicou ao oficial que comandava o serviço, que um “cidadão”, não queria mostrar a identidade. Desce um tenente e se dirige ao “poeta do azul”:
- Cidadão, o soldado disse que o senhor não quer se identificar. Nós estamos em uma operação e não dificulte nosso trabalho!
- É isso mesmo: não quis e não vou me identificar também para o senhor! – respondeu o poeta.
- Não tem problema. Não o incomodaremos mais! E virou de costas, rumando para seu carro de onde saíra pouco antes.
- Tenente, não me identifiquei, mas o senhor pode me levar para casa? Não tenho dinheiro nem para pegar um táxi! – disse o Penafort, que entrou na viatura e foi levado até sua residência.
Quanto a mim, ao sair do Bar do Armando, recebi do artista plástico José Palheta, de presente um caricatura minha. O ano era 1988, e até hoje a mantenho na parede de meu apartamento o desenho caricato que recebi de presente do “Palheta”, quando eu ainda começara a despontar para a literatura. Mandei emoldurá-la e a guardo como uma relíquia dos bons tempos que militava no jornalismo!
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