Por Ronaldo Cunha Lima
NATUREZA MORTA
NATUREZA MORTA
A fama do pintor, já não importa.
A natureza não existe morta:
o quadro é que parece não ter vida.
O MAR
O mar corteja a praia e, uma a uma,
as ondas pousam perolas de espuma
sobre seu ventre branco, umedecido.
A CARTA
Aquela carta, fiz bem em escondê-la.
Sinto , as vezes, vontade de retê-la
mas tenho medo de querer rasgá-la.
INDUÇÃO
A dúvida, afinal, esclarecida:
ela jamais se foi da minha vida.
Minha vida, sem ela, e que se foi.
DESPENHADEIRO
Porque eu te amei o quanto pude,
em dimensões de abismo e de altitude
o nosso amor se fez despenhadeiro.
MODORRA
Ancorado na barra de mar morto,
do navio um marujo espia o porto,
como quem se perdeu do horizonte.
AUSÊNCIA
Renasces, recompões e me retornas
paisagens mortas e lembranças mornas
mas tu mesma não vens para vivê-las.
O QUE RESTOU DE NÓS
Além do adeus, da lágrima velada,
do nosso amor se não restou mais nada,
fica, entretanto, o que restou de nós.
ALHEAMENTO
A vida não me alheie no absorto
enquanto eu não me encontre, vivo ou morto,
e, estando vivo, enquanto eu não me esqueça.
SONHOS
Se nas horas dos dias de crescer
eu sonhava com o que queria ser,
hoje sonho em ter sido o que não fui.
O JUIZ
Aplicando o direito a qualquer custo,
o juiz não se apega ao que é justo,
decide o que é legal e o que não e.
Nenhum comentário:
Postar um comentário