Ricardo Noblat
Mais um ministério? Não, não pediu. Algum cargo importante no segundo escalão do governo? Também não.
Pediu que o presidente provisório reafirmasse seu compromisso de não ser candidato à reeleição em 2018?
Não. Esse pedido foi feito há duas semanas, e Temer reafirmou que não será candidato à reeleição. Por ora é candidato a suceder Dilma.
Desta vez, o PSDB foi a Temer pedir o impossível, resumido em duas frases pelo senador Aécio Neves, seu presidente.
“Não quero que o governo tenha apenas a cara do PSDB. Quero também que ele tenha a alma do PSDB”, disse Aécio a Temer, segundo Ilimar Franco, colunista de O Globo.
Como homem bem educado e político matreiro, Temer ouviu o pedido e concordou com ele sem concordar.
Se Dilma tivesse ouvido algo parecido de um aliado, talvez respondesse:
- Bem, primeiro vocês ganham a eleição. E depois montam um governo não só com a cara, mas com a alma de vocês.
O PSDB se diz incomodado com a lentidão do governo em adotar medidas de ajuste da economia. Mas não é bem isso.
O que o incomoda é a suspeita de que Henrique Meirelles, ministro da Fazenda, esteja indo muito além dos seus chinelos.
Meirelles deveria cuidar apenas da economia, entende o PSDB. Mas está se metendo também na política propriamente dita.
Dito de outra maneira: o PSDB teme que Meirelles pegue gosto pela política e acabe se tornando um forte nome à sucessão de Temer.
Curioso é que Meirelles entrou na política pelas mãos do PSDB. Ao deixar a vida de banqueiro, quis ser governador de Goiás.
Não deu. Quis ser senador por Goiás. Também não deu. Contentou-se em ser deputado federal. Gastou muito e se elegeu pelo PSDB.
Nem chegou a assumir o mandato. Desligou-se do PSDB para ser presidente do Banco Central no governo Lula. Hoje está no PSD.
Quando o PSDB decidiu apoiar o impeachment de Dilma, calculou que sua vez chegaria tão logo Temer completasse o mandato dela.
Tinha três candidatos capazes de suceder Temer: Aécio, José Serra e Geraldo Alckmin. Seu problema seria apenas escolher um deles.
Não é mais. Aécio foi baleado por denúncias levantadas na poeira da Lava-Jato. E Serra está preste a ser baleado também.
Se Temer fizer um governo pelo menos razoável até 2018, terá chance de concorrer à reeleição. Se preferir se aposentar, o candidato que tiver seu apoio terá chance de se eleger presidente.
Aí poderá entrar Meirelles.
É tudo o que o PSDB quer evitar desde já.
Aécio Neves e Michel Temer (Foto: Divulgação) |
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