Ricardo Noblat
Dois ex-presidentes da República (Lula e Dilma). Dois candidatos a presidente derrotados em eleições passadas e que aspiram concorrer à sucessão de Temer (José Serra e Aécio Neves, do PSDB). Pelo menos cinco ministros de Estado (Eliseu Padilha, Moreira Franco, Gilberto Kassab, Aloysio Nunes e Bruno Araújo).
E mais: os atuais presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado (Rodrigo Maia, do DEM e Eunício Oliveira, do PMDB), três senadores (Renan Calheiros, Romero Jucá e Edison Lobão, do PMDB), e dois ex-ministros da Fazenda (Antonio Palocci, preso em Curitiba, e Guido Mantega, ambos do PT).
Essas são as estrelas conhecidas até agora da lista com os nomes de cerca de 170 políticos encaminhada, ontem, ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo Procurador-Geral da República Rodrigo Janot. Contra eles, Janot pede a abertura de inquéritos por suposto envolvimento em crimes de corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e formação de cartel.
O pedido ampara-se na delação de 78 executivos da construtora Odebrecht e numa quantidade impressionante de indícios e de provas recolhidas pela Operação Lava Jato nos últimos três anos. Janot quer que seja suspenso de imediato o sigilo em torno de todos os documentos. Caberá ao ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF, decidir a respeito.
Não existe a possibilidade de a Justiça condenar em definitivo nenhum dos nomes citados por Janot antes das eleições gerais do próximo ano. Os que quiserem, portanto, poderão disputá-las. Mas isso, por ora, é o que menos importa para eles. O estrago já foi feito. Fazer parte da lista é mais do que meio caminho andado para amargar novas derrotas políticas.
A condenação moral, dada às atuais circunstâncias do país, é tão grave ou pior do que uma condenação futura pela Justiça. A moral é de imediato, e seus efeitos se farão sentir no curto prazo. A futura, além de incerta, demorará muito. A história política do país, do fim da ditadura militar para cá, está repleta de exemplos disso.
Em 1º de abril de 2002, a Polícia Federal apreendeu R$ 1 300 000,00 na sede da empresa Lunus Participações, em São Luís do Maranhão. Roseana Sarney, filha do então ex-presidente José Sarney, era sócia da empresa administrada por seu marido Jorge Murad, e governava o Estado. Na época, liderava todas as pesquisas para a eleição presidencial daquele ano.
Nos dias seguintes, Murad ofereceu sete versões diferentes sobre a origem do dinheiro – cada uma mais inverossímil do que a outra. As pesquisas começaram a registrar a queda de Roseana na preferência dos eleitores. Não lhe restou outro caminho a não ser o de renunciar à candidatura a presidente. Suou bastante para se eleger senadora.
Quatro anos depois, o país foi sacudido pelo Escândalo dos Sanguessugas. Uma quadrilha com ramificações no Congresso, no Ministério da Saúde e em prefeituras de diversos Estados superfaturava contratos para a compra de ambulâncias com dinheiro público. Uma CPI recomendou a cassação dos mandatos de 69 deputados e de três senadores. Nenhum foi cassado.
Dois dos deputados acusados renunciaram ao mandato. Dos 67 restantes, apenas cinco conseguiram se reeleger. O senador Ney Suassuna (PMDB-PR) não conseguiu. A senadora Seris Shessarenko (PT-MT) disputou e perdeu a eleição para o governo do seu Estado. Não havia redes sociais naquela época. E nada remotamente parecido com a Lava Jato.
“A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”, escreveu Karl Marx no seu livro “Dezoito Brumário de Louis Bonaparte”, publicado pela primeira vez em 1852. Pode ser. Enquanto isso, para os mencionados por Janot em sua lista, “Carpe diem”. Aproveitem ao máximo o presente.
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