terça-feira, 10 de julho de 2012

MOINHO PARA PRODUZIR XERÉM!


Carlos Costa é jornalista
e Assistente Social
Com um movimento do braço, minha mãe girava a manivela de um moinho todo em ferro fundido, preso na ponta de uma mesa qualquer, e transformava carne comum, em moída; milho, em xerém para pintos novos, castanha do Brasil em material para ser usado em bolos, coco, em leite de coco colocando água dentro  e coando tudo em um pano branco, limpo,  trocando apenas  engrenagens que se acoplavam na frente do moinho!
O que produzira, contudo, era o “xerém” ou “xarém” termo de origem árabe que significa “papas de milho”, para consumo dos pintos novos, amarelinhos, que andavam sempre atrás de suas mães e ainda não conseguiam ou não entendiam o processo de ciscarem em busca de alimentos, além do milho que lhes era servido, depois de vagarem livres, leves e soltas pelo campo.
 Todo e qualquer alimento possível de ser moído, era inserido por uma boca de ferro de um moinho e minha mãe os transformava em carnes moídas; e milhos,  em xerém. Tudo o que era colocado pela boca do moinho, deslizava por uma espécie de eixo condutor, cheio de dentes que os conduzia rumo à saída, onde eram prensados, triturados no tamanho que as engrenagens permitiam, descendo tudo o que era preciso e necessário para o consumo doméstico e aparados manualmente, ainda.
 No Brasil, é uma tradição na região Nordeste, especialmente em Pernambuco, servir um prato com grãos secos de milho, quebrados no pilão e cozidos com água e sal. Também é conhecido como “arroz de pobre”, preparado com leite ou acompanhado de galinha guisada ou carne assada.
O alimento surgiu com os bandeirantes e tropeiros que, em seus alojamentos que os utilizavam em um prato conhecido como “angu de milho” ou papa, preparado com outras especiarias, informam os livros.  Em outros países, como Portugal e Cabo Verde, o xerém também é considerado de importância histórica, existindo, até na Ilha de Brava, no mês de junho, uma festa para comemorar a importância do milho na cultura.
Independentemente das designações, o que quero destacar nessa crônica é a paciência que minha mãe tinha ao escolher cada parte da frente do moinho, para cada tipo de produto que desejava moer: milho triturado para pintos pequenos – xerém fininho, para os recém nascidos, milho um pouco maiores para os frangos ou milho inteiro para as galinhas ou galos; ou carne, castanha ou coco.
 Costumava trocar a parte da frente do moinho quando pretendia moer carne sempre que meu pai sacrificava um touro ou uma vaca para alimentar a família, na falta de peixe. Era raro ele fazer isso porque sempre existia peixe nos rios e lagos.  Girava muitas vezes por dia o moinho, dependendo da necessidade, mas sempre existia xerém para pintos guardados em potes de vidros hermeticamente fechados.
 Talvez por isso, minha mãe tivesse tanta força no braço quando para corrigir alguns dos muitos filhos que não se comportavam como tinham que ser.

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