terça-feira, 29 de maio de 2012


Grandes nomes da Literatura da Língua Portuguêsa
HELIODORO BALBI
 MENDONÇA DE SOUZA

AINDA HOJE, decorridos cinqüenta e quatro anos do trespasse, HELIODOR BALBI, pelos múltiplos e notáveis remígios poéticos, sociológicos e filosóficos, permanece em nossa admiração e estima. Mas firme, mais estável, nesta permissão do tempo, podemos sentir-lhe os rumos colossais, infinitos.
Jamais hesitou em face dos obstáculos. A vida e a obra oferecem-nos o valor insigne, extraordinário em atividade mental, forte personalismo, raciocínio empolgante, agudíssima veemência nos julgamentos políticos e sociais.
A faculdade rara naquilo em que o talento e o gênio, sem reserva e sem inveja, sem restrições e sem medo, exigiam-lhe enleio e culto. O nobilíssimo ânimo em que sempre assim viveu a se explicar:
- “O direito, como fenômeno evolutivo, não é um produto da cultura: é um fenômeno concomitante do aparecimento do primeiro homem, que foi o primeiro selvagem. A sua gênese está no ato reflexo, determinado pelo meio cósmico – um simples movimento, como a consciência na sua gênese”.
Cumpre-se distingui-lo nesse itinerário de leis e razões para as forças físicas e sociais, para o cosmo, para a vida. Senti-lo nas constantes modalidades da existência agitada. Nutre em horizontes mais desafogados. Típica, figurativa, emblemática no lume de Prometeu.
Deixou-nos uma obra vasta, complexa, épica no raro poder de emoção, de sagacidade, de amplíssimo saber. Uma vida inteira devotada aos livros, às doutas idéias. Na crítica e na polêmica sabia mostrar-se altíssimo, superior, honrado no valor das convicções límpidas e nas ações nobres.
Em feliz estudo de recapitulação dos grupos humanos, de reconhecimento ao progresso e de consciência histórica, deixa-se ver e aplaudir nesta mensagem estimuladora aos que sabem defender com diligência e bravura o governo político dos povos contra os sectários e iníquos:
- “Afirmar que a sociedade evolui, que todo organização social é apenas uma resultante da raça e do clima,que os homens agem sob a influência principal de agente atmosféricos ,de necessidades e instintos hereditários, é esquecer a ação fecunda dos gênios, a convergência enérgica dos desejos e aspirações coletivas, dos ideais que norteam todos os agrupamentos humanos, os transportes da multidão apaixonada, das massas populares em delírio, a explosão de idéias de encontros pacíficos de raças e de povos, a potência das opiniões individuais, a corrente das tradições, a força poderosa dos costumes, é esquecer tudo isso, todos os fatores pessoais da história”.
Nesta hora de interesse comum da Família Universal pela Paz, em face das ameaças de novas guerras, nada mais oportuno e justificado do que relermos, com profunda atenção, estas palavras de HELIODORO BALBI, imensas de notável verdade político-social:
- “Sem liberdade não há direito e a força é a inimiga da liberdade. Como, porém, não há direito sem o respeito às personalidades que o exercitam, o homem luta pela posse eterna desse respeito, que é a condição da sua própria vida”.
“quando o homem tiver feito a sociedade como organização do trabalho – a vasta família humana constituirá então um só todo social, falando uma só língua e tendo um só direito”.
Nesse destino da cândida ventura, o direito, conseqüência direta da imperfeição humana, integrar-se-ia à moral. Tornar–se-ia o homem co-participante de uma sociedade aceita em deveres.
Simplesmente porque, neste último estágio da constituição social, da universalização jurídica e política, o homem atingiria o nirvana supremo do espírito mundial. Teria vencido o próprio mundo.
Só na crença em Deus o homem consegue deixar de ser o lobo do homem. O individualismo extremo ainda por séculos e séculos fora acompanhará o aperfeiçoamento moral da Humanidade.
Daí estas palavras finais de HELIODORO BALBI, no discurso de formatura, aos novos bacharéis:
- “O diploma de capacidade que solenemente hoje recebeis, se é a carta de vossa liberdade privada, da vossa independência política, é também o código dos vossos deveres humanos. Quando tiverdes consciência de tudo o que ela  vos diz, de tudo o que ela voz quer dizer, a vossa vida será uma série infinita de lutas contra todas as opressões e contra todos os opressores.
Nesta aurora de novo movimento de ordem e progresso, de melhor futuro para a nossa Pátria, após tanta politicalha, torna-se oportuno, realmente, observamos com notável respeito estes imortais excertos de HELIODORO BALBI:
- “O patrimônio dos orfãos, a massa dos falidos, os bens dos ausentes, precisam de mãos puras para guardá-los, de mãos limpas para geri-los, de mãos honestas para movê-los”.
Trabalhai, colegas, pela redenção do homem, que será o dia em que, tendo ele plenitude de justiça, não terá mais necessidade de pleitear direitos”.
BALBI nasceu nesta bela cidade dos manaus a 16 de fevereiro de 1878. O trespasse ocorreu em Rio Branco, capital do Estado do Acre, a 26 de novembro de 1918.
Por especial deferência do Dr. Hugo Carneiro, dez anos depois, os restos do grande amazonense forem piedosamente exumados e transladados para Manaus. Desde 13 de fevereiro de 1928, repousam no Cemitério de São João.
Fundou revistas acadêmicas, colaborou em jornais. Orador de nossa Academia, em várias solenidades, e, com legítimo orgulho, por algum tempo, do Instituto Arqueológico e Geográfico Pernambucano. Igualmente, orador da  Turma de Bacharéis de 1902, pela tradicional Faculdade de Direito do Recife.
Como deputado estadual apresentou aos nobilíssimos, pares projetos de inegável interesse público. Com professor defendeu, de maneira afetiva, insigne, a pureza de nosso idioma na modulação da galanteia, desenvoltura, esplendor e glória.
Neste rememorativo esfôrço em que o consideramos egrégio cultor do Direito e da Liberdade, em face da sociologia e da filosofia, a parafraseá-lo, bem podemos aqui dizer-lhes:
Hoje que os HELIODOROS BALBIS raream, desaparecem, morrem, precisamos criá-los, fazê-los, multiplicá-los.
Sem dúvida, necessitamos venerá-los no que somos, agradecê-los no que temos, imortalizá-los no que havemos  feito na sucessão dos tempos.
Em louvor, pois, do grande HELIODORO BALBI aqui, com imperecível gratidão, estas palavras de nossa mais profunda reverência. 

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