quinta-feira, 22 de março de 2012

ENGODO


POLÍTICA
Tem muita gente, inclusive na boa imprensa, engolindo a história de que a Presidente Dilma Rousseff tem sido “obrigada” a lidar com sua “base” fisiológica de apoio parlamentar, em termos que não lhe agradariam.
Como se, Chefe da Casa Civil do governo Lula, não tivesse participado essencialmente da montagem do monstrengo ingovernável que aí está. Como se não se tivesse beneficiado eleitoralmente das forças que finge repudiar. Como se, ao fim e ao cabo, estivesse mesmo disposta a mudar substantivamente alguma coisa.
Vamos aos fatos. Foi obrigada pela imprensa a demitir oito Ministros acusados de gravíssimas irregularidades. Fez tudo para mantê-los (Fernando Pimentel é zumbi que ela insiste em conservar na Esplanada, apesar de suas “consultorias” serem, em tudo e por tudo, semelhantes às de Antonio Palocci) e só os dispensou quando a situação de cada um deles estava insustentável.
Mais ainda: elogiou-os na saída e entregou aos seus partidos a prerrogativa de indicar os substitutos. Investigação dos “mal feitos”? Nenhuma. Dilma, aliás, sutilmente, passou a chamar corrupção de “mal feito”, assim como Lula cunhou a expressão “aloprados”, para os criminosos que forjaram o dossiê contra José Serra.
A matriz sendo a mesma, os métodos são idênticos.
O loteamento da máquina pública não foi desfeito. Os “donatários” das benesses oficiais são os de sempre. Nenhuma mudança de fundo aconteceu.
Dilma é refém do esquema de sustentação política que Lula montou para elegê-la e para construir uma suposta governabilidade segura. Pois esse esquema apodreceu. Cheira mal. Não tem cura.
Tentou negar o Ministério do Trabalho ao PDT, após as estripulias de Carlos Lupi, mas vai ceder. Esse partido voltará ao controle pleno da suserania.
Tem uma pendência de forma com o PR, que controla o essencial do Ministério dos Transportes, e estou ansioso por ver como se desfiará o novelo.
Aposto todas as fichas em que não terá coragem de enfrentar José Sarney e Renan Calheiros, mais Michel Temer e a esmagadora maioria do PMDB. Recuará. Buscará a forma mais sutil de fazê-lo, porém recuará.
Enquanto isso, posa de “inconformada” com a “chantagem” e com a fisiologia. Até Lula supostamente a estaria apoiando nessa cruzada, logo ele, autor intelectual e físico da monstruosidade que não quer voltar para a jaula.
A Presidente terá de aprovar projetos relevantes para o desdobramento de sua gestão. Conseguirá isso com votos de quais congressistas? Ora, com os “aliados” que sua propaganda estigmatiza, mas que jamais deixarão de ser acarinhados com cargos rentáveis, no mínimo, eleitoralmente.
O governo está perdido, desorientado. As obras são obstaculizadas pela inapetência administrativa ou pela vigilância do TCU. A Copa está na marca do pênalti. A economia aponta crescimento medíocre contra inflação alta. A articulação política praticamente inexiste. Tem contenciosos delicados até no PT.
Prevejo tempos difíceis. Semearam vento. Colherão tempestades.

Arthur Virgílio é diplomata e foi líder do PSDB no Senado

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