sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Meu caro primo Alarico

Liége Farias é cronista literária
O mundo dá muitas voltas. E, nessas voltas todas que o mundo dá, de repente lembro de um primo meu: o Alarico Cidade.
Alarico é um primo muito querido, filho da única irmã da minha INESQUECÍVEL mãe, a tão querida tia Jandira. Incrível! Minha avó materna chegou a Ter dezesseis filhos, catorze homens e apenas duas mulheres: Jandira e Genura.
Lembro de fresca memória de um fato interessante que ocorreu lá pelo ano de 1962. Morávamos nesta época na Rua Luiz Antony, bem em frente ao antigo Estádio General Osório, que hoje faz parte do Colégio Militar. Naquele local, festejava-se no mês de junho o Festival Folclórico.
Manaus era uma cidade pequena e a arquibancada de concreto conseguia abrigar os espectadores com bastante folga. Eu, com meus nove anos, era uma espectadora assídua e assistia aos desfiles de quadrilhas, danças, bois, com a alegria despretensiosa que meus poucos anos me proporcionava. Tudo era festa em frente de casa!
Nessa época, estava hospedado sob o nosso teto o primo Alarico. Mais novo que eu, calças curtas, magrinho, morava no interior, em Manicoré. Sempre, naquela época do ano, aparecia lá em casa.
Minha mãe teve uma idéia: vender croquete no Festival, e o Alarico topou a idéia na hora. Seria o vendedor da tal iguaria, feita pelas mãos da minha mãe:
- Pode deixar tia Genura, que eu vendo tudinho!
Naquele momento, naquele exato momento, o pequenino primo, franzino, interiorano, estava dando uma amostra do grande empresário que um dia iria ser. Foi um sinal de que era um garoto de garra.
Foram confeccionados os croquetes. Coitadinha da mamãe: cometeu um erro nos ingredientes e os tais croquetes saíram duros ao invés de macios. Um bom croquete se derrete na boca, porém o croquete feito pela minha mãe estava literalmente rijo. Mesmo assim, ela arrumou um por um numa bandeja, colocou um vidro de molho de pimenta ao lado e... lá se foi o Alariquinho à luta: vendê­-los.
Estávamos eu e umas três amigas apreciando os festejos da arquibancada quando, de súbito, ouvi aquela voz:
- Olha os croquéis, olha os croquéis...
Fiquei estarrecida: era o Alarico segurando a bandeja com os croquetes duros, tão duros de quebrar os dentes. Eu sabia porque já havia provado um.
De repente, do meu lado, uma senhora chamou o vendedor dos "croquéis", comprou um e bradou em voz alta:
- Meu Deus, que croquete duro! Credo!
Alarico nem ligou e continuou gritando:
- Olha os croquéis, olha os croquéis...
Mas o pior ainda estava para acontecer. Num tropeço, houve um desequilíbrio e o Alarico deixou cair a bandeja... e os croquetes saíram rolando arquibancada abaixo. Gargalhadas geral! Gritos e pilhérias. E eu, morta de vergonha! Fiquei mais extasiada quando presenciei o AIarico recolhendo os salgados, um por um, e agasalhando-os novamente na bandeja.
A bagunça que o pessoal da arquibancada fez, jamais vou esquecer. Todo mundo ria, todo mundo dava risadas escandalosas. E eu, com uma vergonha danada!
Impávido como os grandes heróis, inabalável, Alarico continuou gritando:
- Olha os croquéis, Olha os croquéis...
Meu primo, Alarico Cidade, hoje é um bem sucedido empresário do ramo da borracha. E esta é uma história que nunca saiu de minha memória. É uma pena que minha mãe Genura já não esteja entre nós, pois, se estivesse viva, faríamos uma festa para comemorar o nascimento desta crônica.

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